São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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HC reage e defende hospital psiquiátrico

AURELIANO BIANCARELLI
e LUCIA MARTINS

AURELIANO BIANCARELLI; LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Instituto de Psiquiatria lança campanha contra movimento que quer fechar hospitais de doentes mentais

Na contramão da forte corrente existente no país que pede o fechamento dos hospitais psiquiátricos, o Instituto de Psiquiatria da USP está lançando uma campanha que defende a "modernização" dos hospitais e a ampliação dos leitos para doentes mentais.
"Eles querem reduzir o problema aos hospitais. Acabar com eles não acaba com as doenças. Elas continuam existindo, só que os doentes ficam sem lugar para ser tratados", afirma Valentim Gentil, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria.
A posição do instituto foi defendida ontem por Wagner Gattaz, chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, durante o 3º dia do congresso "Psiquiatria e Saúde Mental no Século 21".
Gattaz criticou o projeto de lei do deputado federal Paulo Delgado (PT), que está tramitando na Câmara e propõe o fim dos hospitais.
"Em vez de fechar os hospitais, precisamos dobrar o número de leitos. A responsabilidade da saúde das pessoas é do Estado e não da comunidade", afirmou.
Para Gentil, o projeto é absurdo. "Não aceitamos uma lei que diz que é proibido investir dinheiro em um hospital psiquiátrico. Isso é desassistência", disse.
Em sua palestra, Gattaz citou experiências falidas em países da Europa onde os governos decidiram fechar os hospitais psiquiátricos.
Na Itália, segundo ele, houve uma criminalização dos doentes após a extinção de 100 mil leitos na década de 80. "Os doentes encontrados na rua acabavam sendo levados para prisões, porque não havia mais lugares onde eles podiam ser tratados."
Gattaz afirmou que o mesmo também ocorreu na Inglaterra. Segundo ele, pesquisas realizadas no ano passado no país mostram que 40% dos sem-teto são egressos de hospitais psiquiátricos.
Para Gentil, como ocorreu em outros países, esse movimento contra os manicômios "está desinformado". Ele afirma que a universidade ficou de fora nas discussões sobre o movimento.
"Eles começaram reagindo à má gerência administrativa dos hospitais. Nós também achamos que o modelo existente não funciona, mas nem por isso temos que acabar com os hospitais."
Para reorganizar a rede de saúde mental no país, Gentil afirma que seria necessário montar um sistema de atendimento com bons hospitais e uma rede de apoio.
Para começar, o instituto está promovendo uma campanha de arrecadação de US$ 30 milhões para reformar o prédio. A intenção é transformar o local em um espaço mais adequado à nova filosofia da psiquiatria e aumentar o número de leitos para 250.

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