São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Censo muda para calcular população de origem negra

FERNANDA DA ESCÓSSIA

FERNANDA DA ESCÓSSIA; MARCOS PIVETTA
DA SUCURSAL DO RIO

IBGE estuda alterações no questionário do levantamento de 2000

O IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) incluirá, nos questionários do primeiro teste para o censo do ano 2000, modificações para quantificar a real população de origem negra no país.
O teste está previsto para o fim do mês de novembro, em municípios dos Estados do Rio de Janeiro e de Mato Grosso. Estão em estudo, na pergunta sobre raça/cor, alterações propostas por representantes do movimento negro.
Se aprovadas para o Censo 2000, as modificações são inéditas na história dos censos brasileiros, iniciados em 1872.
A primeira alteração proposta é a inclusão da pergunta sobre raça/cor em todos os questionários do teste. No Censo 1991, a pergunta estava em apenas 25% dos questionários.
A segunda mudança em estudo é a substituição, pelo menos em parte dos questionários, de "preta" por "negra", para identificação da raça ou cor.
A terceira mudança -e a mais polêmica- é a inclusão, na categoria "parda" (que abrange os mestiços em geral), da subcategoria "afrodescendente", para que o entrevistado tenha a opção de dizer se é ou não de origem negra.
Ao lado de afrodescendente, aparece também a opção "outras", para mestiços que não têm origem negra. As mudanças foram sugeridas ao Comitê 2000 por membros do movimento negro, em uma reunião realizada no Rio.
Alicia Bercovich, coordenadora do Comitê 2000, diz que não há critério exato para que se marque a opção afrodescendente. A orientação é que assinalem a opção aqueles que tiverem ascendência negra, sem definição de gerações.
"Ainda estamos estudando como incluir as sugestões no teste e o formato final dos questionários, mas as propostas do movimento negro estarão lá. Precisamos saber como a população entende as perguntas", afirma Bercovich.
Em alguns Estados americanos, é considerado afro-americano quem é descendente de negro até a 16ª geração, segundo membros do movimento negro brasileiro.
Além do teste de novembro, estão previstas mais duas simulações em 1998. Em 1999, ocorrerá um censo experimental, simulando o recenseamento em parte dos municípios do país. O censo definitivo está previsto para agosto de 2000.
Para a historiadora negra Wania Sant'Anna, 36, pesquisadora da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), mais que um detalhe de semântica, as mudanças em estudo no IBGE são o reconhecimento da importância do negro na composição da população brasileira.
"Pardo não é cor de gente, é cor de gato e de papel de embrulho. Não se fala em cultura preta, mas em cultura negra. O nosso movimento é negro, e a nossa música é afro", afirma Wania, autora de estudo sobre as condições de vida dos negros em parceria com o economista Marcelo Paixão.
Alguns demógrafos, como Maria Coleta, da Unicamp, consideram justas e apóiam as modificações sugeridas pelo movimento negro, mas não acreditam que elas levem a grandes alterações nos dados referentes à questão racial que serão levantados no censo do ano 2000.
"Apesar de terem alguns defeitos, nossos censos são de excelente qualidade" diz Maria.

Colaborou Marcos Pivetta, da Reportagem Local

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