São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Especialistas consideram termos difíceis

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DO RIO

Estudiosos da questão racial ouvidos pela Folha aprovam as propostas do movimento negro para o censo do ano 2000, mas alguns deles temem que a população não consiga entender o significado e o alcance da expressão afrodescendente.
Para o coordenador do GTI (Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra), Hélio Santos, a maior dificuldade será definir esse termo.
"Em algumas regiões dos Estados Unidos, são negras pessoas com ancestrais negros até a 16ª geração. No Brasil, quase todo mundo tem um ancestral negro", afirma. Segundo ele, o GTI conseguiu incluir a pergunta sobre cor nos atestados de óbito dos brasileiros.
A psicossocióloga Edith Piza, pós-doutoranda em relações de gênero, raça e gerações pela Universidade de São Paulo, diz que a expressão negro, marcada pelo preconceito, pode ser rejeitada pelos entrevistados.
Ela afirma que o alto grau de miscigenação racial no Brasil dificulta a identificação dos afrodescendentes e modifica as definições de raça/cor nas diferentes regiões brasileiras.
Edith Piza é autora, em parceria com a psicóloga Fúlvia Rosemberg, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, de estudos sobre a cor nos censos brasileiros. Em escolas paulistas, realizou pesquisas sobre a cor dos alunos de cursos de alfabetização para adultos.
Falta de educação
Edith conta que, em uma de suas pesquisas, uma recenseadora lhe disse que, em muitos questionários, identificou por conta própria a cor dos entrevistados. "Em muitos lugares, perguntar cor é até falta de educação. Cor ou raça é uma resposta negociada entre quem pergunta e quem responde. Negro, mais do que cor, é identidade", afirma.
Segundo Fulvia, a questão da afrodescendência somente será feita aos pardos no novo censo a fim de não diluir o significado do novo termo.
Existem também descendentes de negros entre os brancos, mas esses indivíduos não são identificados como tendo também origens negras pela maioria da população, afirma a pesquisadora.
"O brasileiro faz a classificação (racial) pelos traços físicos e condição social. Nos EUA, a descendência (étnica) é mais levada em conta", diz Fulvia. "Tenho a impressão que a grande maioria dos pardos (no Brasil) é afrodescendente."
A socióloga Regina Pahim Pinto, também pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, diz considerar negro um termo usado pela militância e pouco corrente entre a população em geral.
"Além disso, acho que afrodescendente é uma palavra difícil. Vamos acompanhar os testes."

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