São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Movimentos negros preparam campanha

DA SUCURSAL DO RIO; DA REPORTAGEM LOCAL

Entidades ligadas ao movimento negro planejam uma campanha de esclarecimento com os recenseadores e com o público em geral para não deixar dúvidas sobre o que significa afrodescendente.
"A nossa idéia é que, mesmo sem um critério técnico, haja uma tomada de consciência. Assim, em vez de dizer que tem um 'pé na cozinha', como fez o presidente Fernando Henrique, a pessoa pode se intitular negra ou afrodescendente", afirma a historiadora Wania Sant'Anna.
Ela sugere que o movimento negro aproveite a realização do teste do novo censo neste mês de novembro e faça as primeiras mobilizações no próximo dia 20, Dia Nacional da Consciência Negra.
O coordenador do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), Ivanir dos Santos, pensa numa campanha com comerciais de televisão e participações de artistas negros e grupos de música afro.
A idéia de Santos é retomar a campanha realizada pelo movimento negro para o censo de 91, chamada "Não Deixe Sua Cor Passar em Branco: Responda com Bom C/Senso".
"O que importa é que haja uma campanha de valorização da cultura negra, mostrando que o negro é belo e fundamental para a população brasileira", afirma Santos.
Lola de Oliveira, coordenadora-executiva do Geledés/Instituto da Mulher Negra de São Paulo, diz que "se os morenos assumirem a afrodescendência, isso será melhor para o movimento negro".
"Ninguém se autoclassifica como pardo. Por isso, acho melhor perguntar se a pessoa é afrodescendente do que pardo."
Aroldo Macedo, editor da revista "Raça", principal publicação nacional voltada para o público negro, acha um avanço a inclusão do termo afrodescendente no novo censo. Mas considera a expressão um termo importado dos EUA.
Ele conta que a revista, em seu início, pensou em se definir como a publicação do afro-brasileiro ou algo do gênero, mas que acabou optando pelo termo negro, mais conhecido.
"Acho válida a inclusão do termo afrodescendente no censo, só que o significado do termo terá de ser explicado para a população", afirma Aroldo.
"A mudança de metodologia ajuda, mas o censo só vai ser mais fiel se os negros eliminarem o autopreconceito e não disserem que são brancos."
O coordenador nacional do MNU (Movimento Negro Unificado), Luiz Alberto Silva dos Santos, deputado federal pelo PT da Bahia, defende o abandono total da classificação cromática no censo.
"Cor não define raça. O que define é a origem étnica", diz o coordenador MNU, com sede na Bahia.

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