São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Tire suas dúvidas sobre a situação econômica

. Seu bolso
As dívidas existentes antes do aumento dos juros são ou não afetadas?
A maioria das prestações é prefixada e não será afetada. A pós-fixada ao IGP-M ou dólar também não. Encarecem as pós-fixadas pela TR

Qual a diferença entre financiamento prefixado e pós-fixado?
No prefixado, os valores a serem pagos já são conhecidos e não mudam até o final do contrato. No pós-fixado a prestação varia de acordo com um índice de preços, como o IGP-M, ou a variação do dólar ou TR

Como ficam os empréstimos imobiliários? A prestação da casa própria vai subir?
Pode haver certa retração momentânea. A prestação do SFH pode subir porque a TR vai acompanhar a alta dos CDBs

Todo tipo de financiamento deve ficar mais caro?
Para os que serão contratados a resposta é sim. Mesmo os indexados ao dólar devem encarecer porque, além da variação cambial, há um juro

O que deve fazer se pretendia entrar num crediário?
Procure adiar a compra. Poupe para comprar à vista ou mesmo financiar com juros mais baixos no futuro.

Desisto de comprar carro?
Se vai pagar à vista, nada muda. Pode haver até queda de preço daqui a algum tempo. Se for financiado, é bom pensar duas vezes porque o juro está muito alto. No consórcio o impacto dos juros é quase nulo

Como ficam as passagens aéreas e os pacotes turísticos?
Os juros devem subir bastante, como em outros setores. Se a viagem não é para já, é bom adiar o financiamento

Como posso saber se a prestação de meu financiamento vai subir?
Em primeiro lugar, veja se ela é prefixada, que não sobe. Em dúvida, procure a loja ou a financeira

O que vai acontecer com o cheque especial?
Os juros vão subir da faixa de 9% a 10% para uns 15% ao mês. Evite a qualquer custo entrar no negativo e procure cobrir a conta se já está no vermelho

E o cartão de crédito?
Os juros também vão subir para cerca de 15% ao mês. Ao receber a fatura, tente pagar tudo e não rolar nada. Se já tem fatura financiada, veja se dá para antecipar o pagamento da dívida

E as aplicações? O aplicador se beneficia com os juros mais altos?
Todas devem passar a pagar mais, inclusive a poupança. A melhor alternativa são os fundos de renda fixa DI de 60 dias, que seguem mais de perto os juros e a poupança

O que faço com meu dinheiro agora?
Deixe aplicado onde está até que as coisas se acalmem. Se está parado na conta corrente, procure aplicar em poupança ou fundos de renda fixa de instituições financeiras que tenham credibilidade. Nos CDBs as taxas de juros variam muito

E a Bolsa? Não é hora de entrar?
Pode até ser, porque muitas ações ficaram baratas. Mas pequeno e médio investidor deve ficar fora. Se tem dinheiro em fundos de ações, faça de conta que perdeu tudo e espere porque o lucro pode ser recuperado

É hora de comprar dólar?
Os especialistas não recomendam, apesar de as incertezas terem crescido. Se o contra-ataque do governo contra especuladores der certo, o dólar vai continuar subindo 0,6% ao mês, contra 3% dos juros. A compra de dólares agora é uma aposta de risco

. Como fica a economia
A recessão é inevitável?
Vai depender de quanto tempo os juros vão continuar tão altos, no patamar de 3% ao mês na ponta das aplicações.
Economistas acham que haverá recessão

O desemprego vai aumentar?
Provavelmente sim, porque a economia já vinha passando por uma reestruturação que incluía cortes de custos com pessoal.
As indústrias se modernizam, colocam maquinário automatizado. Com a economia desaquecendo ou entrando em recessão, mais pessoas podem ser demitidas

A inflação cai ainda mais?
Está tão baixa que é difícil cair mais. Mas subir é menos provável porque a economia tende ao desaquecimento. Pode haver queda de preços em alguns setores porque juro alto inibe a formação de estoques. As empresas desovam estoques para fazer caixa e evitar crédito

Pode haver deflação?
Se a economia entrar em recessão, pode haver deflação

Os dólares que voltam para o Brasil vão para a Bolsa ou para a renda fixa?
Tudo indica que vão preferir a renda fixa porque os juros são os mais altos do mundo. Mesmo descontando a variação cambial, a rentabilidade bruta equivale hoje a 30% ao ano, e a líquida, a 25% ao ano

A Bolsa vai continuar caindo? Por quê?
Juro alto sempre foi inimigo mortal das Bolsas. Mas os preços de muitas ações ficaram baratos e podem atrair compradores. Há todo um programa de privatização pela frente. Vai depender das Bolsas no exterior e da credibilidade da política econômica. Uma coisa é certa: tão já a Bolsa não se reequilibra

A dívida pública vai explodir? Quais as consequências disso?
Deve crescer porque os juros já subiram. O tamanho do crescimento vai depender do tempo em que os juros permanecerão tão altos. A consequência é negativa porque o governo vai gastar mais e o déficit público, já alto, tende a aumentar

As medidas tomadas pelo governo são suficientes?
Neste primeiro momento, parece que sim. O mercado de dólar se acalmou com a alta dos juros. O Banco Central até comprou dólares no piso ontem. Mas o clima ainda é tenso e haverá desdobramentos. A crise não acabou

. Consequências políticas
A reeleição de FHC fica ameaçada?
É cedo para tirar qualquer conclusão. Que a crise não ajuda o governo FHC é óbvio que não. Economia desaquecida traz mais desemprego, e este é o principal calcanhar-de-aquiles do governo hoje. Resta saber como estará a economia em 98

Como as oposições vão capitalizar o episódio?
Vão continuar batendo na tecla de que o modelo neoliberal do governo FHC está levando o país para o buraco. O crash global reforça esse discurso. Mas até agora as propostas que as oposições apresentam como alternativa são vagas, inconsistentes

O crescimento pode ser retomado antes das eleições, em tempo de o governo se beneficiar?
Teoricamente, sim. Resta um ano para as eleições. Mesmo se isso ocorrer, entretanto, será um crescimento modesto. A situação das contas externas do país impede um crescimento maior

Que instrumentos o governo pode usar para fazer a economia deslanchar no próximo ano?
Ser mais liberal nos gastos públicos, aumentar as despesas de investimento, baixar os juros etc.

Uma eventual política expansiva não traria o risco de recrudescimento inflacionário?
O risco maior não é trazer de volta a inflação, mas piorar ainda mais a situação das contas externas e do setor público

. Por que o governo dobrou os juros
1. O Brasil estava sofrendo forte saída de dólares para o exterior
2. Os dólares saíam devido às incertezas provocadas pela crise das Bolsas de Valores
3. Há quem acredite que a saída de dólares tenha sido resultado de um ataque especulativo contra o real. O ataque ocorre com a generalização da crença de que o governo vai desvalorizar sua moeda
4. Em qualquer uma das duas hipóteses anteriores, os juros mais altos fazem os dólares voltar ao Brasil. Isso porque, para se aproveitar das elevadíssimas taxas de juros, o investidor precisa comprar reais

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