São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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'Ladies' investem em Bolsas dos EUA e derrotam especialistas do mercado

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Recentemente, uma "velhinha" americana de mais de 60 anos, com um problema grave no coração, teve que colocar um marcapasso. Seu médico sugeriu um novo modelo. Depois que o aparelho foi colocado, ainda hospitalizada, ela pediu à família que trouxessem balanços e outros documentos sobre o fabricante do marcapasso.
Satisfeita com o que leu, mandou comprar ações da empresa, para a sua carteira de investimentos e como presentes para os dois filhos. E se deu muito bem: em poucos meses, as cotações dessas ações tinham dobrado de valor, graças, em parte, ao sucesso do novo marcapasso.
Essa história de decisão de investimento pouco usual não é única: a "velhinha" do caso é uma das 14 associadas de um clube de investimento formado há dez anos unicamente por mulheres, a maioria com idades entre 60 e 70 anos atualmente, que se tornaram famosas nos Estados Unidos.
A primeira razão para a fama é a alta rentabilidade da carteira de investimentos do clube: em dez anos, a taxa média de valorização foi de 23% ao ano, superando a média do mercado americano e também os resultados da maioria dos cerca de 32 mil clubes de investimentos existentes nos EUA.
Além disso, as sócias do clube se tornaram celebridades ao escreverem três livros, ensinando como pequenos investidores podem se dar bem nas Bolsas, que se tornaram best-sellers.
Passatempo lucrativo
As 14 associadas -duas já morreram- se tornaram conhecidas como as "Beardstown Ladies", em referência ao lugar onde moram, uma cidadezinha de 6.000 habitantes, no Estado de Illinois.
Tão populares se tornaram as "Beardstown Ladies" que nos últimos dias elas deram dezenas de entrevistas para todas as principais redes de TV americanas e muitas publicações sobre a crise nas Bolsas de Valores, como contou à Folha, por telefone, Betty Sinnock.
Ela e outra associada do clube, Anne Brewer, iniciam hoje uma visita de uma semana ao Brasil para divulgar o lançamento de um dos seus livros.
O clube foi formado quase como um passatempo. No início da década de 80, uma tia de Betty Sinnock, Margaret Greenman, já com 80 anos, mudou-se para Beardstown para ficar mais perto da sobrinha. Sem muito o que fazer, começou a frequentar uma associação local de mulheres de negócios, em cujas reuniões se falava sobre investimentos em ações.
Uma primeira tentativa de formar um clube de investimento -muito comuns nos EUA- teve uma vida curta. "Tia" Margaret ficou de coração partido e, por causa disso, sua sobrinha ajudou a organizar um outro clube, que acabou tendo um enorme sucesso.
Patrimônio dobrado
Quando morreu, em 1987, o patrimônio da "tia" Margaret era de US$ 470 mil, quase o dobro do que tinha quando mudou-se para Beardstown.
O investimento do clube não é grande. Atualmente, sua carteira atual de ações vale cerca de US$ 340 mil dólares. Mas as sócias usam o que aprenderam no clube para constituir carteiras próprias.
São as próprias sócias do clube que decidem quais ações devem ser compradas. Para isso, em cada reunião mensal, que ocorre no salão de uma igreja, as sócias apresentam relatórios sobre as empresas que têm ações nas Bolsas e que, por alguma razão, atraíram suas atenções.

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