São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Brancos da África do Sul temem 'revolta negra'

The Independent
de Londres

MARY BRAID
EM JOHANNESBURGO

Atirar primeiro e atirar por último. Há meses, é esse o método que Pieter Gous, presidente do Sindicato Rural do Estado Livre (direita), aconselha aos fazendeiros brancos da região para lidar com invasores de suas propriedades.
Após cada ataque desferido contra um filiado do sindicato, Gous ameaça que os fazendeiros irão fazer justiça sumária com as próprias mãos se o governo não impuser limites à violência.
Há algumas semanas os fazendeiros se vingaram da morte de Theo Pieterse, 50, ocorrida perto de Bultfontein, no coração das planícies do Estado Livre. Numa área dominada por fazendeiros conservadores bôeres (sul-africanos descendentes dos colonizadores holandeses), seus vizinhos perseguiram três suspeitos negros. Segundo lavradores, os homens estiveram na fazenda no dia anterior, procurando trabalho.
Na "prisão por cidadãos" que se seguiu à descoberta dos suspeitos, um deles morreu e os dois outros ficaram gravemente feridos. Gous diz que lamenta a morte, mas afirma que ela reflete o alto nível de frustração presente nas comunidades rurais da região.
O Sindicato Rural do Estado Livre afirma que Pieterse é o terceiro fazendeiro branco a ser morto por negros na região nos últimos dez dias. Na semana passada, Piet van Eeden foi assassinado em sua fazenda quando retornava, com sua família, de uma reunião na escola da filha. Em outro ataque ocorrido alguns dias antes, um fazendeiro foi morto na vizinha Heilbron.
Motivação para os crimes
A motivação dos agressores é objeto de disputa. Os líderes moderados dos fazendeiros dizem que sua categoria não é um alvo especial, mas está apenas sofrendo os efeitos da mesma onda de criminalidade que atinge o país inteiro. É o fato de viverem isolados e possuírem armas e veículos que os torna mais vulneráveis.
Mas outros fazendeiros aventam a hipótese de uma conspiração maior. "Esses ataques não foram feitos com o intuito de roubar", disse Johann Neethling, membro da executiva do Sindicato Rural do Estado Livre. "Nada foi roubado."
O Partido Conservador Africânder, de direita, afirma que os assassinatos integram uma campanha que visa forçar os fazendeiros a abandonar suas terras.
Neethling opina que os assassinatos estão ocorrendo porque os negros acreditam que os brancos roubaram suas terras.
As tentativas do governo de fortalecer os direitos de posse dos empregados de fazendas com certeza intensificaram a tensão nas áreas rurais, onde os brancos sempre foram patrões e os negros, com pouca ou nenhuma opção, seus empregados. Essa dura realidade envenenou as relações entre eles.
Muitos fazendeiros estão tentando antecipar-se à introdução das novas leis para fortalecer os direitos de posse de terra por lavradores negros, despejando as famílias negras de suas terras. Alguns negros estão sendo despejados de terras que ocupam há décadas. Às vezes o fazendeiro branco retira o telhado da casa do lavrador negro, para incentivar sua família a abandonar o local. Quando Martin Paters foi morto a tiros em setembro, a polícia especulou que ele teria sido confundido com um fazendeiro da região que acabara de expulsar várias famílias de suas terras.
Os sindicatos rurais dizem que o governo está fomentando idéias falsas sobre a posse da terra e a redistribuição da riqueza.

Tradução de Clara Allain

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