São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Pior que prostíbulo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A crise dos últimos dias expõe, com enorme contundência, as debilidades do modelo econômico hoje hegemônico. Essa história de que não há caminho alternativo que não seja o de integrar o país (todos os países, aliás) à economia mundial mostra seus limites, até com ironia.
Argentina, Brasil e México, para citar apenas os grandes da América Latina, seguiram com capricho o receituário da moda. Abriram suas economias, privatizaram o que conseguiram, enxugaram o Estado e tentam com esforço pôr ordem nas finanças públicas.
O que ganharam de prêmio pelo bom comportamento? Nada além de estilhaços da crise, quando não disparos diretos.
Pior: está claro que a margem de manobra de seus respectivos governos é, para ser otimista, bastante limitada, próxima de zero.
Era natural, embora não necessariamente justificável, que à falência do Estado onipresente, estilo soviético, se seguisse a pregação do Estado impotente, inexistente.
Mas o mais elementar bom senso manda dizer que deve haver algum meio-de-campo entre os exageros de um lado e de outro. Pelo menos, deveria haver espaço para uma ação reguladora do Estado sobre o movimento de capitais, cujo comportamento se revela pior do que o que se encontra em prostíbulos.
Nesses, o cliente pelo menos paga. Na farra global em andamento, o dinheiro chega, goza e vai embora, sem pagar, deixando um rastro de mortos e feridos.
É no que dá ceder à chantagem. Todos os governos do mundo vêm se recusando, faz tempo, a tomar medidas que acham que provocariam reações do tal de mercado, a todo-poderosa entidade sem rosto.
Não adiantou. O mercado, implacável, continua a torturá-los. Dá vontade de dizer "bem feito", não fosse o fato de que a vítima é uma parcela substancial da sociedade.

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