São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Risco na bolsa de apostas

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Ao apostar as fichas na vitória de Fernando Henrique Cardoso em 98, os governistas sempre acrescentam duas ressalvas: ele só não ganha se surgir um grande escândalo ou se houver uma catástrofe na economia.
O que o Brasil está vivendo agora é uma doença: crise brutal nas Bolsas, fuga inimaginável de dólares e um certo grau de incerteza sobre o futuro das privatizações.
O remédio é amargo: duplicação das taxas de juros. Em outras palavras, arrocho no crédito, aumento da inadimplência, retração de investimentos, queda no consumo. Tudo somado é igual a recessão e desemprego.
É ou não é uma catástrofe?
Para o cidadão que quer ter salário, é. Para o que quer comprar, também. Para os pequenos e médios empresários que precisam vender, igualmente. Para os setores já abalados pela concorrência externa (calçados, têxteis, autopeças), mais ainda.
Sem contar que, desta vez, muito peixe graúdo que nada de costas no sistema financeiro também se afogou.
Se é uma catástrofe para tantos e tão diferentes eleitores, impossível dizer que não seja também para a equipe econômica, para o governo e, em última instância, para o presidente-candidato.
A questão, mais uma vez, é que FHC ainda não tem (e só uma bola de cristal poderia dizer se terá) um adversário capaz de convencer, por exemplo, que segura uma crise como a atual.
Os investidores e seus consultores jamais conseguem saber com segurança quando e se o mundo vai desabar.
Como, aliás, não conseguiram prever o terremoto que na semana passada saiu de Hong Kong, afetou Nova York e destruiu uma série de certezas da política econômica no Brasil.
Se nas Bolsas não se sabe o que vai acontecer nos próximos dois dias, em política é raríssimo saber com certeza o que vai acontecer no próximo ano.
Parece claro que o prestígio do governo FHC entrou na crise das Bolsas melhor do que está agora.
Se o BC calcula as perdas em dólar, o Planalto contabiliza as perdas em votos.
E ambos ainda enfrentam um poderoso adversário: a crise não acabou.

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