São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Ai, que soooooooooooooooono!

LAVÍNIA FÁVERO

Vontade de dormir durante o dia é sinal de que algo não vai bem
Você é daquelas pessoas que só precisam estar acordadas para sentir sono? Não se culpe. Isso não significa que você é preguiçoso. O organismo precisa dormir assim como de água e comida, e essa necessidade é diferente para cada pessoa.
Quando essa exigência não é atendida, o equilíbrio do organismo fica comprometido, e o corpo começa a reclamar. Passar o dia bocejando e sonhando com o momento de deitar e dormir depois de uma noitada é normal, mas, quando a sonolência começa a atrapalhar a sua vida, é hora de procurar um médico.
"A sonolência é como a febre: sua presença indica que há alguma disfunção no corpo", explica o neurologista Flávio Alóe, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital das Clínicas.
Para descobrir o que está causando a sonolência excessiva, o primeiro passo é entrevistar o paciente. "O médico precisa saber a história e os hábitos de quem está atendendo, antes de mandar fazer exames", explica o neurologista Ademir Baptista Silva, professor-adjunto da Universidade Federal de São Paulo e especialista em doenças do sono.
Um segundo momento é realizar o exame chamado de polissonografia: o paciente dorme uma noite no laboratório, e os médicos têm condições de avaliar a qualidade do seu sono. "Muitas vezes, a pessoa não entende como pode ficar sonolenta durante o dia se dorme a noite inteira", conta o neurologista Luciano Ribeiro Pinto, um dos responsáveis pelo Laboratório do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Uma das causas de sonolência excessiva detectadas pela polissonografia é a apnéia do sono, uma disfunção que faz com que a pessoa pare de respirar durante alguns segundos. Para manter o organismo vivo, o sistema nervoso "desperta" o corpo, para a pessoa poder respirar.
"Muitas vezes, o paciente nem percebe que acorda, porque tudo se passa muito rápido", explica a pneumologista Lia Rita Azeredo Bittencourt, também do Laboratório do Sono da Unifesp.
O químico aposentado e empresário Sérgio Barbosa, 52, chegou a procurar um psiquiatra para descobrir a causa de sua sonolência. "Minha família me proibiu de dirigir, e eu cochilava direto no trabalho", lembra. Barbosa, que sofre de apnéia, chegava a parar de respirar 60 vezes por hora, o que significava acordar a cada minuto.
Hoje, seu tratamento inclui medicamentos antidepressivos e o uso de um aparelho durante o sono que o impede de parar de respirar. "Antes, eu só pensava que dormia", conta.
Cirurgia
Perder peso e evitar bebidas alcoólicas são outras medidas recomendadas. "A cirurgia, mesmo quando feita a laser, não é muito indicada, por ser um processo complicado e que dá resultado em um número muito pequeno de casos", aconselha Lia Rita.
Os tratamentos para sonolência excessiva, contudo, variam de acordo com a causa do problema. A apnéia é uma das causas mais comuns de sonolência excessiva, mas transtornos psiquiátricos e de humor, como a depressão, também podem aumentar a vontade de dormir.
Trabalhadores que trocam o dia pela noite são sérios candidatos a sofrer com o sono, mesmo que durmam várias horas durante o dia. Isso acontece porque o corpo se prepara fisiologicamente para dormir à noite. Por mais que a pessoa durma durante o dia, a pessoa não consegue descansar de verdade.
"Pesquisas feitas em vários países mostram que os maiores índices de acidentes causados por falhas humanas acontecem de madrugada, quando as pessoas deveriam estar dormindo e são obrigadas a ficar acordadas trabalhando", afirma Aloé.
Outras causas da sonolência excessiva incluem mudança de fuso horário, mal de Parkinson, demência, distúrbios de sono ligados à menstruação e à gravidez.
Algumas alterações do sistema nervoso central como a narcolepsia, doença em que a pessoa dorme repentinamente.
Medicamentos excitantes para manter a pessoa acordada só são receitados em casos graves, como os dos narcolépticos.
"As pessoas, e até alguns médicos, têm de se conscientizar que a única coisa que repara o sono é dormir. Usar drogas ou substâncias excitantes não resolve o problema", alerta Flávio Alóe.
Recorrer a xícaras de café preto, chocolates, Coca-Cola e remédios com cafeína só é válido em ocasiões especiais. Não deve jamais se tornar um hábito. "A motivação pessoal para o que se está fazendo é o maior inimigo do sono", diz Alóe.
Portanto, não se force a dormir menos do que o seu corpo lhe pede. O estado de sonolência é comparável ao da embriaguez leve em algumas medidas, como concentração, memória, atenção e aptidão motora. O rendimento da pessoa fica comprometido.

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