São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Fabrício quer achar um pai

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Toda vez que conhece um amigo mais simpático de sua mãe, o menino Fabrício, 6, pede a ela: "Casa com ele, mãe, para ele ser meu pai".
Nos segundos domingos de agosto, na falta de um pai, Fabrício homenageia um tio. É para ele que são feitos trabalhos escolares, preparados almoços, reservados os abraços.
Quarta-feira, Fabrício era o último na fila do teste gratuito do convênio da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) com a Defensoria Pública.
Na camisa, o menino exibia um desenho do Snoopy como bombeiro, com a inscrição em inglês que o menino e sua mãe, Gabriele, 25, não sabiam traduzir: "A vida é fogo".
Fabrício e Gabriele são nomes fictícios, criados por ela para evitar constrangimentos ao filho.
Enquanto esperava o exame, Fabrício apontava para um grupo de supostos pais que, mesmo sem se conhecer, batiam papo esperando pelo exame. "Ele é o meu pai, até o cabelo é igualzinho", dizia Fabrício.
Foi a segunda vez que ele viu o homem. A primeira foi no ano passado, quando o juiz de família pediu exame de DNA para comprovar a suposta paternidade. Gabriele e o antigo namorado, com quem não conversa havia seis anos, marcaram um exame numa clínica particular.
Pelo combinado, cada um pagaria a metade, mas ele alegou estar desempregado. O teste só foi feito na semana passada, de graça, pelo convênio com a Uerj.
Gabriele contou uma história comum a muitas mães que entram na Justiça e conseguem fazer gratuitamente o exame de DNA.
Com 19 anos, ela não chegava a ser a namorada, mas costumava "ficar" com o suposto pai de seu filho.
Gabriele diz que engravidou sem planejar, o homem se afastou, nunca ajudou a sustentar o menino e agora é cobrado judicialmente para participar no sustento de Fabrício.
"Só entrei na Justiça porque é um direito do meu filho conhecer o pai. Um dia ele me cobraria. Tudo o que ele quer é ter um pai."
Gabriele já não chora mais, como no passado, por causa de sua história. O filho
continua a cobrar-lhe um pai. O suposto pai se recusa a dar entrevista.
Na quarta-feira, uma mulher chegou para tirar sangue com o filho de um ano e seis meses. Além deles, o suposto estuprador e pai. "Às vezes, a gente pensa que o nosso problema é um drama, mas não é nada diante de outros", diz Gabriele.
(MM)

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