São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Banco sugere "fast track" para FHC

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso tem de assumir o comando do processo político e negociar com o Congresso um "fast track" para a aprovação das reformas administrativa e da Previdência Social até o final do ano.
A sugestão é de um relatório inédito do banco norte-americano de investimentos Goldman Sachs, que será divulgado nesta semana.
O objetivo é limitar a quatro semanas o uso da política de juros altos para defender a moeda brasileira de ataques especulativos.
O "fast track" é o termo que significa "via rápida", um mecanismo que, nos Estados Unidos, dá poderes ao presidente para obter a aprovação urgente de legislação sem emendas do Congresso.
O economista Paulo Leme, 41, vice-presidente e diretor de mercados emergentes do Goldman Sachs, que assina o relatório, disse à Folha, no sábado, que o presidente FHC tem em suas mãos muito poder para influenciar de forma expressiva quanto tempo o país vai ter de ficar com os juros nos atuais níveis "estratosféricos".
A seguir, os principais trechos da entrevista de Paulo Leme.
*
Folha - O presidente FHC disse na sexta-feira que "só Deus sabe" quando os juros vão baixar. Como o sr. analisa essa declaração?
Paulo Leme - O presidente tem, na verdade, enorme poder nas mãos para baixar os juros mais rápido do que se pensa. Não depende só dele, depende da conjuntura internacional, mas em grande parte depende dele.
Folha - Por quê?
Leme - O momento é difícil, mas há instrumentos para o país superar a crise dentro de quatro semanas. A saída é um choque fiscal, baseado em medidas de curto prazo para aumento de receita e redução de despesas, e na conclusão das reformas administrativa e previdenciária. A alta dos juros não pode ser mantida por mais de quatro semanas.
Folha - E o que esperar agora? Acabou o risco de ataques ao real?
Leme - O ambiente externo vai continuar sendo muito volátil, particularmente em Hong Kong, onde o ajuste da economia será feito por meio de deflação de preços de ativos, ações e imóveis.
Folha - Mas com relação ao ambiente interno?
Leme - A política monetária, apesar de acertada, é insuficiente e tem de ser ancorada por outras medidas para assegurar a viabilidade do atual regime cambial.
Folha - Quais medidas?
Leme - Em primeiro lugar, seria recomendável a implementação de um programa de ajustamento fiscal porque isso aumentaria a poupança interna e reduziria o déficit em conta corrente.
Folha - Um choque fiscal?
Leme - Um choque fiscal, que deveria ser anunciado, no mais tardar, no final da semana que vem. Seria a estratégia prudente para combater a vulnerabilidade da economia brasileira.
Folha - Só o juro alto não afasta a vulnerabilidade?
Leme - O BC agiu de forma correta no momento certo, mas agora é a hora de passar o bastão para a Fazenda. O ônus do ajustamento não pode ficar com a política de juros. É preciso um pacote fiscal com elevação do superávit primário e a redução de despesas.
Folha - Como isso seria feito?
Leme - Com medidas de congelamento dos salários do funcionalismo público e do salário mínimo para melhorar as contas da Previdência e redução do custeio dos programas de investimentos do governo federal. Do lado da receita, uma medida que pode dar certo é o aumento das tarifas públicas.

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