São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Divórcio eletrônico

GUSTAVO IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

É difícil entender o que está acontecendo com os casamentos, mas o que é fácil notar é que eles não estão dando muito certo. Da última década para cá, nos EUA, a taxa de divórcios subiu de 50% para 66%. Quer dizer, dois terços dos casamentos terminam antes do tempo. O que já é número respeitável para que o tradicional "até que a morte os separe" seja substituído por "garantido até a Copa de 2002". Fica mais verídico.
Entre tantos fatores que têm contribuído para o fim do matrimônio (novos remédios que aumentam a vida das sogras, telessexo, motéis com banheiras de hidromassagem, a síndrome Lorena "Corta Pela Raiz" Bobbit etc.) chegou mais um com poder avassalador: o divórcio pela Internet.
Na Gringolândia, mulheres se apaixonam por desconhecidos em chats. São salas virtuais, onde um bando de depravados fica dizendo tudo aquilo que nossas mães nos proibiram de dizer quando éramos pequenos. Protegidos pelo anonimato (ou por apelidos sugestivos como Analberto ou Vaginícius), os tarados virtuais soltam sua verve -e há mulher que, aparentemente, acredita.
O diálogo virtual progride com o tempo, até que os pombinhos do ciberespaço fogem juntos, sempre levando seus computadores. Um dia, o antigo maridão chega em casa e encontra o recado da esposa dizendo que o abandonou por um Ricardão oriundo de algum chat incógnito, e que ambos querem reconstruir suas vidas e conviver de um "modem" mais saudável; que era melhor "a-kbytes" tudo.
Parece que algumas, vingativas, chegam a deixar um último veneno, tripudiando: deixam subentendido que o disco rígido do novo parceiro é muito mais rígido que o do maridão.
Depois de algum tempo de ressentimento, em que não se comunicam (até porque a mulher levou junto o computador), os ex-cônjuges voltam a trocar mensagens e acertam o desquite por correio eletrônico.
Tudo isso já começa a produzir efeitos na indústria de adesivos pra carro. Em vez do símbolo do corno alegre dos anos 80, que dizia "Minha mulher fugiu com meu melhor amigo, e quer saber? Sinto falta dele", surge uma nova versão, prócibercorno dos anos 90: "Minha mulher fugiu com meu computador, e quer saber? Sinto falta dele". Ou seja: além de sermos, como espécie, um fracasso em relacionamentos, temos de aguentar a humilhação de sermos vítimas de máquinas que nós criamos. Assim já é demais.

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