São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Joaquín Cortés diz que se sente um deus

ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

Bailarino espanhol de dança flamenca apresenta em nove cidades brasileiras seu espetáculo "Pasión Gitana"

Com olheiras profundas, escondidas num óculos escuro, o bailarino espanhol Joaquín Cortés, concedeu entrevista coletiva para jornalistas brasileiros no último domingo, em Buenos Aires, após ter realizado, na noite anterior, dois espetáculos no Luna Park, um imenso ginásio que já foi palco de lutas de boxe.
Popstar da dança que se projetou nos últimos dois anos, Cortés vem percorrendo o mundo com o espetáculo "Pasión Gitana", que já foi visto por quase um milhão de pessoas em palcos como o Radio City Music Hall, de Nova York, e que no próximo dia 11 inicia em Porto Alegre uma turnê por nove cidades brasileiras.
Em São Paulo, Cortés se apresenta no Palace, de 20 a 23 de novembro. Com chances de se tornar um musical da Broadway em 1998, "Pasión Gitana" segue do Brasil para a Austrália, Japão, Estados Unidos e Canadá.
"Não me considero uma estrela. Mas, quando estou em cena me sinto um deus", diz Cortés. De origem cigana, o bailarino foi estimulado a aperfeiçoar seus estudos de dança por seu tio, Cristóbal Reyes, que dança um solo em "Pasión Gitana" e também assina algumas coreografias.
Formado em balé clássico, Cortés disse que está recebendo convites para se apresentar com grupos internacionais e que há coreógrafos interessados em criar especialmente para ele.
Apesar do bom humor, Cortés se recusou a responder perguntas sobre sua vida pessoal. Só garantiu que está livre, sugerindo que seu namoro com a top model Naomi Campbell chegou ao fim. Leia abaixo, trechos de sua entrevista.
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Pergunta - É preciso muita disciplina para suportar tantas apresentações?
Joaquín Cortés - Sim, a política de minha companhia é guiada pela disciplina. Senão, não aguentaríamos esta turnê que está completando dois anos e meio sem parar, e que soma cerca de 700 apresentações, quantidade que bate o recorde de todas as companhias de dança do mundo.
Pergunta - O que você pretendia ao conceber "Pasión Gitana"?
Cortés - A idéia era fazer um espetáculo através do olhar de um menino cigano, que sou eu, considerando minhas vivências.
Aos 12 anos comecei a estudar todo tipo de dança, aos 14 comecei a viajar pelo mundo como bailarino de companhias como o Ballet Nacional da Espanha, até que chegei à categoria de solista e ao momento em que comecei a criar meus próprios espetáculos.
No início, "Pasión Gitana" enfoca o lado mítico e espiritual da origem cigana, para depois explorar as ambiguidades que se estendem até os nossos dias. Aborda ainda a poesia da Espanha e a explosão da festa flamenca. Meu solo final representa a rebeldia e o orgulho de uma raça que foi oprimida, massacrada e perseguida durante muitos séculos.
Pergunta - O que você traz de novo para o flamenco?
Cortés - Não sei se trago algo novo. Conto minha história e faço uma fusão de danças e músicas. A idéia não é mudar o flamenco, mas fazê-lo evoluir e mesclá-lo com outras vertentes. Esta postura reflete minha formação, que mistura o estudo de várias modalidades de dança, como clássico, flamenco e jazz.
Pergunta - A fusão que você faz não pode deturpar o flamenco?
Cortés - Isto é o que pensam os puristas. Não penso assim e o que faço tem tido muito êxito, atraindo espectadores que não iriam a um espetáculo tradicional. Com isso, acho que estou contribuindo para a popularização do flamenco.
Pergunta - O estudo do balé clássico influi no seu desempenho técnico?
Cortés - Sim, tecnicamente o clássico é a base para todo tipo de dança. É um recurso que me dá mais segurança.
Pergunta - Você tem ídolos?
Cortés - Sim, Nureyev, porque era um animal em cena, tinha um carisma impressionante e permanece insuperável.
Pergunta - O que foi mais importante em sua formação?
Cortés - Fui como um garoto que estuda vários idiomas de uma vez. Me formei em várias linguagens de dança e isto me dá muita vantagem.

Espetáculo: "Pasión Gitana", com Joaquín Cortés e grupo
Quando: 20 a 23 de novembro, às 21h
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-4900. Moema)
Quanto: R$ 80,00 a R$ 20,00

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