São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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A CAIXA-PRETA DO BNDES

Instituições financeiras oficiais não costumam ser transparentes. No Brasil, onde problemas nessa área têm sido frequentes, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pertence a uma categoria especial. O banco se destaca não por escândalos administrativos ou financeiros, mas pela dimensão e extensão de suas ações.
Até o final de 97, o banco deverá desembolsar mais de R$ 14 bilhões. É um orçamento que praticamente se iguala ao do Banco Mundial. Entretanto, quanto desses recursos se destina de fato a projetos de natureza social? Quantos beneficiam empresas de menor porte ou setores que não têm acesso seja ao sistema financeiro estatal, seja ao privado?
Na prática, o BNDES tem atuado em frentes cada vez mais diversas. Tem sido um instrumento auxiliar de programas do governo, como o ajuste dos governos estaduais ou a privatização. Mas também financia setores em que os bancos privados podem atuar, como o de financiamento a investidores estrangeiros.
Felizmente, o debate sobre a missão e os critérios de concessão de crédito do megabanco estatal está sendo retomado. Empresários já questionam, por exemplo, o sentido de fazer empréstimos a empresas estrangeiras quando, ao contrário, deveriam ser elas as primeiras a trazerem recursos para o país. Nesse terreno, o BNDES às vezes apenas emula os governos estaduais, que trombeteiam investimentos privados amparados, na prática, em generosos programas de apoio estatais. Isso vale também na privatização.
O sistema financeiro brasileiro carece ainda de inúmeros ajustes. A escassez de crédito privado de longo prazo é uma dessas carências que o BNDES, em parte, atende.
No momento atual, o crédito torna-se mais escasso e as chances de sobrevivência de empresas, setores e regiões vão se estreitando. O sentido das políticas estatais de crédito direto deveria, por isso mesmo, ser muito mais transparente.

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