São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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POLÍCIA DE NOVA ESCOLA

Dentre os diversos desafios implicados na tarefa de tornar eficaz a atividade policial no país, a formação dos agentes de segurança pública talvez seja aquele que mais imediatamente precisa ser enfrentado.
A Academia de Polícia Civil de São Paulo está implementando um novo currículo para a formação de delegados, com disciplinas que podem ajudar a alterar a cultura policial, tradicionalmente marcada pela violência. A ênfase no esclarecimento sobre direitos humanos, por exemplo, pode estimular uma relação mais respeitosa dos policiais com os cidadãos.
A Polícia Militar de São Paulo, por sua vez, anuncia agora a reformulação de seu curso de formação. A partir de 98, aumenta-se a carga horária de 900 para 1.400 horas de treinamento do soldado, que será efetivado como servidor público somente após um estágio prático de 14 meses, seguido de uma avaliação sobre conhecimentos gerais da função, bem como de uma verificação da compatibilidade entre seu perfil psicológico e o desempenho de suas atribuições.
É razoável supor que certas atrocidades cometidas em ações policiais poderiam ser evitadas por um cuidadoso diagnóstico das condições de estabilidade emocional do soldado durante sua formação (e sobretudo já no exercício de suas funções). Iniciativas de comprovada eficácia como o policiamento comunitário passam a ser também objeto de estudo.
Não se trata de desvalorizar as disciplinas técnicas ou menosprezar aspectos básicos da formação tradicional, mas de "tirar a couraça do arbítrio", como lembra o novo comandante da PM em São Paulo, o que não se pode fazer sem um cuidadoso preparo dos recursos humanos.
Discutem-se no momento propostas de reforma policial como desconstitucionalização, desmilitarização da PM, unificação das polícias. Mas é preciso reiterar que de nada adiantará elaborar novas políticas de segurança pública se aqueles que forem executá-la não conhecerem claramente suas obrigações.

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