São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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O real e a Lei de Murphy

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - O capitão Edward Murphy, da Força Aérea dos EUA, acompanhava com vivo interesse os experimentos de seu chefe, o major John Paul Stapp. Cobaia de testes de resistência a grandes acelerações, Stapp desafiava a velocidade em um trenó-foguete. Em 1949, bateu o recorde de aceleração. Mas não pôde festejar. Os acelerômetros do veículo não funcionaram.
Engenheiro, Murphy foi investigar o que havia ocorrido. Descobriu que um técnico ligara os circuitos dos aparelhos ao contrário. E concluiu: "Se há mais de uma forma de fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em desastre, então alguém fará o trabalho desta forma". Em entrevista, Stapp se referiu à frase como "Lei de Murphy". Resumiu-a assim: "Se alguma coisa pode dar errado, dará".
A história pode ser encontrada no livro "A Vingança da Tecnologia", de Edward Tenner (Editora Campus). A "Lei de Murphy" foi injetada no folclore da tecnologia. Hoje, o termo é utilizado em qualquer área. Agora mesmo, aqui no Brasil, verificamos que pode ser aplicado também à economia.
O governo FHC tinha duas formas de gerir o real. Como que tomado pelo espírito da "Lei de Murphy", optou pela via que conduziria ao desastre. Sempre se soube que o êxito da nova moeda, pendurada nos juros lunares e no câmbio sobrevalorizado, dependia de reformas complementares. Pois o presidente, leniente com as reformas, arrancou do Congresso a reeleição e imaginou que poderia deslizar para o novo mandato sem sobressaltos.
O real está agora exposto à sanha da especulação internacional. Um inimigo que vaga, imperceptível, por nuvens de elétrons, ligadas em rede ao redor do planeta. O especulador se pauta por vagas intuições. Pode inocular, da noite para o dia, o vírus da desconfiança no sistema financeiro de um país como o Brasil, de moeda fraca. FHC finalmente achou um adversário capaz de derrotá-lo na próxima eleição.

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