São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O marketing da oposição

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Na sexta-feira, quando o Banco Central divulgou para jornalistas uma carta da Merrill Lynch elogiando a alta dos juros, o governo deu uma aula de como se aproveita um bom momento.
Qualquer pessoa inteligente sabe que a situação é crítica. Que há muitos problemas estruturais no país. Que a Merrill Lynch, que tem muitos negócios por aqui, queria adular o BC.
Tudo bem. Valeu a estratégia. A mídia acolheu o elogio da corretora.
Pois bem. No dia anterior, a oposição decidira divulgar seu projeto de plataforma comum para a campanha eleitoral do ano que vem.
Foi um fracasso de marketing a divulgação do documento da oposição. É curioso isso. Partidos como o PT, o PDT e o PSB são escolados em produzir pseudofatos para chamar a atenção. Dessa vez, falharam. Algo que já tem se tornado habitual.
Um dos erros mais crassos do estratagema da oposição foi a data escolhida para mostrar a grande obra: bem no meio da semana em que o planeta inteiro se descabelava por causa da crise nas Bolsas de Valores.
É quase incrível que o PT, um partido com quase duas décadas de existência, não tenha alguém com tirocínio para dizer que o momento não era adequado. Mas é exatamente isso que acontece. Aliás, até outro dia, nem Lula e Arraes conheciam o documento.
Digamos que a idéia tivesse sido exatamente essa. Divulgar no meio da crise. A oposição estaria talvez apresentando sua contribuição para iluminar o caminho das trevas no qual FHC teria colocado o Brasil.
Qual nada. Nenhuma palavra no documento se refere à crise das Bolsas.
Não que o documento seja um lixo. A redução da jornada de trabalho é algo positivo e em linha com o que os países mais desenvolvidos têm feito.
Também não é o caso de só malhar a oposição pela falta de marketing.
Mas, se a divulgação da proposta daquilo que pretendem para o Brasil foi desse jeito, imagine como será a campanha. Ou um eventual governo dessa turma.

Texto Anterior: O real e a Lei de Murphy
Próximo Texto: O espírito do Estado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.