São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Exame detecta metanol em cachaça na BA

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

As primeiras análises realizadas pelos peritos do DPT (Departamento de Polícia Técnica) de Salvador na cachaça suspeita de ter provocado a morte de 11 pessoas em Serrinha (BA) revelaram a presença de metanol em todas as 17 amostras coletadas para exames.
O laudo oficial só deve ser divulgado na próxima sexta-feira, segundo informações do diretor do DPT, Djalma Silva.
Embora os resultados oficiais ainda não tenham sido divulgados, os técnicos do DPT acreditam que os indícios obtidos com as primeiras amostras são conclusivos.
Após constatar a presença de metanol nas amostras, os peritos do DPT iniciaram ontem à tarde novos exames para saber a proporção do produto químico que estaria contida em cada litro de aguardente.
"O metanol é um produto químico altamente tóxico e que não faz parte da composição da cachaça", disse a gerente em exercício da Vigilância Sanitária de Salvador, Rosa Brown.
Chumbo
Também começou na tarde de ontem um exame paralelo para saber se a cachaça fabricada em Amélia Rodrigues (80 km de Salvador) e revendida em Serrinha (173 km da capital) foi contaminada por chumbo.
O comerciante Mário Souza -principal fabricante da aguardente suspeita de provocar as mortes em Serrinha- fechou seu alambique e não foi trabalhar nos últimos dois dias, segundo informações de policiais do município de Amélia Rodrigues.
Segundo a 12ª Dires (Diretoria Regional de Saúde), todas as vítimas morreram depois de ingerir a cachaça. O chefe da Vigilância Sanitária da 12ª Dires, Antonio Jorge Calmon Siqueira, disse que as vítimas que tomaram a cachaça tiveram os mesmos sintomas antes de morrer -intoxicação, dores de cabeça, náusea, hipertensão e cegueira. As mortes aconteceram nos últimos 20 dias.
A Vigilância Sanitária de Salvador (BA) trabalha com duas hipóteses para a contaminação do produto. "O produto foi contaminado durante o transporte ou quando foi acondicionado em recipientes menores", disse Rosa Brown.
A gerente descartou a possibilidade de a cachaça ter sido contaminada durante a fabricação.
"Se isso tivesse acontecido, certamente algumas pessoas também teriam morrido em Amélia Rodrigues e em outras cidades para onde o produto é distribuído."
Ontem à tarde dois técnicos do Ministério da Agricultura iniciaram uma fiscalização nos alambiques localizados na região de Amélia Rodrigues.
Nos últimos cinco dias os fiscais do Ministério da Agricultura e da Vigilância Sanitária apreenderam 2.500 litros da cachaça supostamente contaminada em Serrinha.
"Também estamos orientando as pessoas a não consumir mais nenhum tipo do produto até a divulgação oficial dos laudos por parte do DPT", disse Rosa Brown. Ainda não foi aberto inquérito policial para apurar as causas e os responsáveis pelas mortes.
Funcionários da Secretaria da Saúde de Serrinha intensificaram ontem a fiscalização em todos os estabelecimentos comerciais do município.
As cachaças e recipientes com o produto que não têm rótulo e especificações dos fabricantes estão sendo lacradas. "Depois do lacre, o proprietário do estabelecimento é nomeado fiel depositário do produto, o que o impede de comercializá-lo", disse Siqueira.
O chefe do serviço de vigilância do Ministério da Agricultura na Bahia, Osmar Alexandria Batista, disse que o órgão tem apenas cinco fiscais na capital baiana.
"Contamos também com a contribuição dos representantes regionais na fiscalização."

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