São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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'Eles bebem muito, são pinguços'

CHRISTIANNE GONZÁLEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SERRINHA (BA)

Casada com o comerciante Gezildo Cerqueira Santana há 13 anos, a dona-de-casa Maria Alice dos Santos, 50, disse que desconhece a procedência dos vasilhames utilizados por seu marido para transportar a cachaça suspeita de contaminação.
Gezildo Cerqueira Santana é o principal distribuidor da cachaça que teria provocado a morte de 11 pessoas em Serrinha.
Até o início da tarde de ontem, o comerciante não havia retornado de sua viagem a Salvador. A seguir, os principais trechos da entrevista de sua mulher à Agência Folha.
*
Agência Folha - Onde o seu marido compra a cachaça que revende?
Maria Alice dos Santos - Na mão do fabricante Mário Souza, em Amélia Rodrigues.
Agência Folha - Como a cachaça é transportada?
Maria Alice - Em vasilhames plásticos de 50, 100 e de 200 litros.
Agência Folha - Onde seu marido compra os vasilhames?
Maria Alice - Na feira livre de Serrinha ou de pequenos comerciantes da cidade.
Agência Folha - Os vasilhames são novos?
Maria Alice - Não. Gezildo compra vasilhames usados, mas eles são bem lavados aqui em casa.
Agência Folha - A senhora já sentiu cheiro estranho neles?
Maria Alice - Eles têm um cheiro forte, mas é cheiro de massa. Parece cheiro de biscoito.
Agência Folha - A senhora acha que a cachaça comercializada por seu marido está contaminada?
Maria Alice - Não. Todo mundo vende a mesma cachaça por aqui. Não entendo por que só estão culpando o Gezildo.
Agência Folha - A senhora acha que a cachaça pode ter sido contaminada no alambique?
Maria Alice - Não sei. Mas essa cachaça é considerada a melhor da região há muitos anos.
Agência Folha - Por que as pessoas estão morrendo?
Maria Alice - Eles bebem muito. São todos pinguços.
Agência Folha - Seu marido mistura alguma coisa à cachaça?
Maria Alice - Não.
Agência Folha - Os vasilhames utilizados para armazenar a cachaça são sempre os mesmos?
Maria Alice - Às vezes os donos de bar levam o vasilhame.
Agência Folha - Das 11 vítimas, duas morreram no seu sítio. Eles consumiram a cachaça?
Maria Alice - Sim, mas eles tinham bebido demais.
Agência Folha - A senhora acha que foi morte natural?
Maria Alice - Claro. Eles passaram a vida inteira bebendo. Foi um azar terem morrido na minha casa.

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