São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Classificado inteligente

GILBERTO DIMENSTEIN

Nunca foi tão fácil procurar emprego. Nem é preciso levantar da cadeira.
É um programa que transforma o computador numa página de caçar trabalho, conhecido como "agente inteligente" -esse tipo de recurso de informática também é utilizado para fazer compras e encontrar os melhores preços. O programa sozinho acha o produto mais barato.
A operação é simples. Digita-se na tela o tipo de ocupação desejada, informando faixa salarial ou cidades preferidas.
O "agente" sai procurando nos bancos de empregos de empresas por todo o país algo que se encaixe com o perfil do candidato. Na prática, lê todos os anúncios classificados.
Em poucos minutos, aparece uma lista de vagas nos mais diferentes locais, inclusive no exterior. A partir daí, basta enviar o currículo e aguardar a resposta.
Esse programa é um dos responsáveis por uma das melhores notícias que correm nas universidades americanas: não se tem registro de tamanha abundância de ofertas a alunos recém-formados, a imensa maioria deles conectados à Internet.
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A festejada corrida de empresas por alunos recém-formados revela um fenômeno comum no Brasil sobre o desemprego: qualquer um vê qualquer coisa, dependendo do ângulo. O que obviamente dá margem para exploração política.
Há segmentos da mesma faixa etária em que a desocupação atinge até 90%, localizados nos bairros contaminados pela violência, drogas e péssimas escolas.
Ao mesmo tempo existe uma carência de 200 mil trabalhadores nas empresas de alta tecnologia.
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Um dos sinais da mediocridade do debate sobre o desemprego no Brasil é a escassez de dados que mostrem o impacto nos mais diferentes segmentos da população.
Fica-se numa disputa, que muitas vezes beira a politicagem, entre os diversos indicadores, mas pouco se sabe, em detalhes, como afeta mulheres, negros ou jovens.
Se alguém tem dúvida sobre a gravidade desses números, veja os barris de pólvora criados em cidades americanas, mesmo com o crescimento da economia e redução das taxas de desemprego a níveis jamais vistos.
Apesar de todo o seu apogeu, Nova York amarga uma taxa de 10% de desemprego. Em alguns de seus bairros bate nos 50%, uma tendência na maioria dos grandes centros americanos.
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PS - Uma das principais lições hoje de Nova York, onde se realizaram ontem eleições para a prefeitura, é dramática constatação de que, mesmo com toda euforia econômica, com tantos turistas abarrotando seus hotéis, gerar emprego está cada vez mais difícil.
A taxa só não está pior porque a redução do crime ajudou a reanimar a economia e injetar mais recursos a projetos sociais via aumento dos impostos.

E-mail: gdimen@aol.com

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