São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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FHC, ACM E O JOGO DE MALUF

O abalo econômico da semana passada começou a criar seus subprodutos também na esfera do jogo de poder armado em torno de Fernando Henrique Cardoso. Embora sejam menos ruidosas que as trepidações na economia, as articulações políticas acabaram se precipitando, mais uma vez pelos hábitos pouco sutis de Paulo Maluf.
Até a semana passada acenando apoio à reeleição de FHC -e, em tese, mostrando-se conformado com a disputa do governo paulista-, Maluf aproveitou o revés econômico para tomar uma carona na crise. Veio a público dizer que os novos juros são "pornográficos", que o país cairá em recessão e que é cedo para selar o apoio à recandidatura presidencial.
Por trás dessas expressões, há pelo menos dois focos de incêndio em curso: primeiro, Maluf voltou a pensar mais seriamente em candidatura presidencial diante do eventual aprofundamento da crise; segundo -e mais importante-, articula a viabilidade de seu nome com Antonio Carlos Magalhães, arriscando que o PFL, partido cuja vocação governista é sabida, pode apoiá-lo se o cenário se tornar ruim demais para FHC.
Esse jogo de bastidores vai se prolongar na medida em que perdure o quadro de incertezas. É verdade que Maluf, motivado pelas pesquisas de opinião a não abandonar a pretensão de ser presidente, nunca foi um aliado muito constante da coalizão situacionista armada em torno do real. Basta lembrar que o ex-prefeito paulistano foi desde o início um dos pivôs do mal-estar entre Mario Covas e FHC, o qual, aliás, abriu espaço para a aproximação com um antigo adversário, mesmo em detrimento de um companheiro de sempre.
Ainda é cedo para saber qual rumo tomará esse imbróglio. Mas o oportunismo político de Maluf é até agora a mais clara evidência de que a base de apoio à reeleição de FHC passa por um desgaste, forjado no rastro do abalo financeiro. De todo modo, a candidatura Maluf representaria antes uma saída conservadora para uma eventual crise do que uma mudança efetiva no rumo da economia.

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