São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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A hora da micropolítica

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Ontem foi o dia de os grandes políticos fazerem micropolítica.
Para consumo externo, criou-se a versão de que um "espírito público" tomará conta de deputados e senadores na hora de votar as reformas. Isso é história para boi dormir.
O Palácio do Planalto voltou ontem aos melhores dias da votação da emenda da reeleição. Eram mapas para todos os gostos sobre as chamadas "insatisfações" dos parlamentares.
Basicamente, os deputados querem dinheiro. O governo fez liberação apenas parcial das emendas dos parlamentares ao Orçamento de 97.
Cada parlamentar teve o direito de propor emendas num valor total de até R$ 1,5 milhão. Só que o ano está acabando. O dinheiro não chega. A eleição de 98 se aproxima. E o governo quer acelerar as reformas.
É a combinação perfeita: o Planalto libera o dinheiro, e os aliados patriotas no Congresso votam. É assim que funciona a micropolítica brasiliense.
Quem define isso muito bem é Pauderney Avelino (PFL-AM), integrante do baixo clero, mas um deputado emergente na Câmara, para usar o termo da moda. Sem tergiversar, eis o que ensina Pauderney: "Sendo realista, e sem querer tapar o sol com a peneira, é necessária a liberação das emendas para amenizar a crise".
Ninguém fala em fisiologia. É tudo para o bem do Brasil. É tudo dentro da lei. É tudo micropolítica.
Há cerca de um mês, o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, até começou a abrir a porteira para as emendas dos parlamentares.
Só que o ministro cometeu um erro. Ligou ele próprio para deputados. "Aquela sua emenda vai sair", dizia Kandir. Isso irritou os governistas.
Não é assim que se faz micropolítica. O ministro teria de conceder aos líderes o privilégio de informar os seus liderados. É assim que se cria um mínimo de hierarquia dentro do Congresso. Kandir foi devidamente informado sobre essa técnica patriótica ontem.
Em breve, com o "espírito público" revigorado, os parlamentares votarão as reformas com mais rapidez.

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