São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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FHC dará apoio a presidente colombiano

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A CARTAGENA

O presidente Fernando Henrique Cardoso fará em sua primeira visita à Colômbia uma clara demonstração política de que não aceita o isolamento do país e do seu presidente, Ernesto Samper.
A Colômbia vem enfrentando pressões dos Estados Unidos -inclusive ameaças de embargo econômico- porque os norte-americanos não concordam com a política de combate ao narcotráfico que vem sendo desenvolvida no país.
Samper, acusado de ter recebido cerca de US$ 6 milhões do tráfico para sua campanha, está proibido de entrar nos EUA.
O objetivo da visita é demonstrar que o Brasil não aceita uma política de combate ao narcotráfico e à guerrilha que isole vizinhos latino-americanos.
O encontro entre os dois presidentes, previsto inicialmente para ocorrer no Brasil, foi transferido para a Colômbia para destacar esse apoio. A reunião aconteceria em Letícia, fronteira com Tabatinga (AM). Mas o local foi considerado inseguro porque há um mês houve duas invasões de terras por colombianos na área brasileira -foram retirados pelo Exército brasileiro.
FHC desembarcou ontem na Colômbia às 20h55 locais (23h55 em Brasília). Do aeroporto, seguiu para um jantar fechado no hotel. Ele deve ficar em Cartagena até as 17h de hoje (20h em Brasília).
Os presidentes decidiram estender as conversas e por isso chegarão atrasados à 7ª Reunião de Cúpula Ibero-Americana, que acontece a partir de hoje na ilha Margarita (Venezuela).
"O Brasil não apóia nenhum gesto unilateral de rejeição à Colômbia", afirmou na semana passada o embaixador Luiz Augusto Castro Neves, chefe do Departamento das Américas do Itamaraty.
"Tal política em nada contribui para tornar mais eficaz a luta contra o narcotráfico. Pelo contrário, pode até mesmo contribuir para a instabilidade do sistema democrático e enfraquecer a luta contra as drogas."
Essa posição vai ser explicitada numa declaração que deverá ser feita pelos dois presidentes, repudiando medidas unilaterais contra terceiros países.
Além disso, FHC e Samper vão assinar dois acordos na área de combate ao narcotráfico, entre outros.
Apesar de FHC não tratar de política interna colombiana, Samper sairá beneficiado com a visita. O apoio brasileiro servirá para diminuir o desgaste político em que Samper se encontra e ajudar o candidato apoiado por ele à sua sucessão em maio do ano que vem, o ex-ministro Horácio Serpa.
Situação histórica
Segundo o embaixador do Brasil na Colômbia, Synésio Goes Filho, FHC também dirá a Samper que a Colômbia deve aproveitar a situação histórica e trabalhar para a união comercial dos países sul-americanos.
A idéia de FHC é que, em bloco, os sul-americanos possam estar em melhores condições de negociar com os Estados Unidos para a efetivação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A Colômbia faz parte da Comunidade Andina (junto com Venezuela, Peru, Bolívia e Equador), mas, por ter um mercado protegido por tarifas de importação, é o mais resistente do grupo em abrir-se ao Mercosul. Há um temor dos empresários de quebra do parque industrial nacional.

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