São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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Menem adia privatização de 33 aeroportos e enfraquece ministro

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Um dia depois de anunciar que o cronograma de privatizações não seria alterado, o governo argentino decidiu adiar por duas semanas a venda de 33 aeroportos, prevista originalmente para a próxima semana.
O adiamento é o sinal mais forte de que a estabilização na Bolsa argentina ainda não foi suficiente para afastar as incertezas em relação à economia.
Apesar de a medida ter sido tomada mais em razão de problemas internos que pela crise mundial nas Bolsas, na prática significa o enfraquecimento do ministro da Economia, Roque Fernández.
A decisão partiu do próprio presidente Carlos Menem, atendendo pedido de cinco dos sete consórcios interessados na privatização.
Os empresários reivindicavam mais tempo para refazer seus cálculos devido às mudanças nas regras da privatização e, em menor grau, por causa da crise nas Bolsas.
Contrário à medida, o ministro da Economia considerava que o adiamento poderia ser interpretado, no exterior, como sinal de insegurança do governo em um momento em que ainda não está totalmente afastada a possibilidade de um ataque especulativo sobre o Brasil ou a Argentina.
Empresas brasileiras
Entre as propostas para ampliar a arrecadação estudadas pelo governo e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) está o aumento de 33% para 39,5% na alíquota do imposto sobre o lucro de empresas estrangeiras -o que atingiria diretamente as companhias brasileiras instaladas na Argentina.
Assim como fez o governo Fernando Henrique Cardoso, a desvalorização da moeda argentina, o peso, está sendo combatida com o aumento das taxas de juros -significativamente mais baixas que as brasileiras.
Os empréstimos entre bancos já estão sendo taxados em 15% ao ano, contra 6,5% antes da crise e 10% na semana passada.
Grandes empresas que têm recorrido a empréstimos estão pagando juros anuais de cerca de 20%. As de pequeno porte, de 30% a 40%.
"Vamos entrar em dezembro com níveis elevados nos juros", afirmou Alfonso Prat, economista do banco de investimentos JP Morgan. A alta nos juros está afetando as vendas, principalmente de automóveis, imóveis e eletrodomésticos.
Orçamento
Em outubro, as vendas internas de veículos caíram 6,8% em relação ao mês anterior, apesar do aumento de 16,5% na produção e de 10,4% na exportação.
O setor é um dos principais da economia argentina, com a exportação de quase metade dos automóveis produzidos no país.
Antes da crise, investimentos no setor de veículos estavam calculados em US$ 5 milhões de 1995 a 2000. O comércio de eletrodomésticos também foi afetado.
"Minha expectativa antes da crise era de que poderíamos ter um crescimento da economia entre 6% e 7% no próximo ano, mas agora não creio em mais de 3,5%", afirmou o economista Ricardo López Murphy.
Oficialmente, o governo nega que fará cortes no Orçamento do próximo ano. No entanto, envia mensagens ao Congresso nesse sentido.

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