São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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"L'Elisir d'Amore" é presente para o público com sua bela alquimia

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um bom espetáculo lírico não é necessariamente aquele em que os solistas pelejam por espaço de virtuosismo. "L'Elisir d'Amore", de Gaetano Donizetti (1797-1848), em temporada no Municipal de São Paulo, é a prova de uma maneira inversa de ser exemplar.
Fernando Portari (Nemorino), Rosana Lamosa (Adina), Enzo Dara (Dulcamara) e José Antonio Soares (Belcore) criaram com gestos e vozes personagens de um requintado e ponderado equilíbrio para o gênero da ópera bufa.
Nesse nivelamento por cima de aptidões musicais e dramáticas, o resultado foi uma das montagens mais generosas das últimas temporadas do Municipal. O público, na estréia de anteontem, aparentemente não sabia disso. Dois terços das poltronas estavam vazias.
A coloratura, anacronicamente um pretexto para o exibicionismo vocal, incorporou-se à partitura como um ingrediente a mais. Não se tornou uma guerra de trinados.
Fernando Portari é um grande tenor. Foi quem mais rapidamente atingiu o patamar de excelência. Rosana Lamosa, por sua vez, será vista de agora em diante como uma antológica Adina. Cresce diante das dificuldades.
José Antônio Soares foi de uma correção absoluta. Enzo Dara, cantor e diretor cênico italiano de uma teatralidade histriônica, tornou-se com muita naturalidade o pivô da resolução de um triângulo do qual não participava.
Outro detalhe: os quatro artistas tinham a idade e o físico para seus respectivos papéis. Lamosa, Portari, Soares e Dara davam involuntariamente um toque de verossimilhança extrema ao espetáculo.
O diretor Iacov Hillel apostou todas suas fichas nas minúcias de comicidade. Deu certo, e o público saiu ganhando. O cenário de Cyro Del Nero, discreto em seu funcionalismo, não anulou com supostos despojamento ou visualidade barroca o que não passava, no final das contas, de uma simples história de camponeses italianos.
O coro esteve impecável. A sonoridade da orquestra primou pela maturidade de metais e madeiras, num conjunto administrado pelo maestro Luiz Fernando Malheiro, autor da escolha do elenco e da bela alquimia que ele produziu.

Ópera: "L'Elisir d'Amore", de Donizetti
Orquestra: Sinfônica Municipal
Direção: Luiz Fernando Malheiro
Com: Lamosa, Portari, Dara e Soares; Barreira, Bros, De Matteo e Hann
Quando: hoje e amanhã, dias 11 e 12
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 5 a R$ 50

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