São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bagdá quer prolongar crise

IRINEU MACHADO
DE LONDRES

O Iraque quer prolongar o quanto puder o clima de tensão e ameaças no golfo Pérsico, na tentativa de ganhar espaço para negociações no Conselho de Segurança da ONU.
A avaliação é de Tim Trevan, 39, especialista em Oriente Médio do IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), em Londres, entidade que estuda a capacidade e a estratégia militares das nações.
"É do interesse do Iraque agir relativamente devagar. Acho que eles (o governo iraquiano) pensam que, quanto mais longa a fase de negociações, mais difícil será para os EUA conquistarem apoio internacional para uma ação militar", afirmou Trevan à Folha.
O objetivo final de Bagdá, na opinião de Trevan, é forçar um debate especial do Conselho de Segurança da ONU sobre a questão do Iraque. "Nesse debate os iraquianos iriam exigir o fim das sanções impostas ao país e exporiam suas reclamações contra as resoluções sobre desarmamento", declarou.
"O governo iraquiano vê como um bom resultado ir a Nova York discutir o seu caso."
Para Trevan, é difícil prever se haverá ou não conflito armado na atual crise.
"Não quero dizer que vai haver ou que não vai haver conflito armado. Acho que nos próximos dias isso não deve acontecer. Entretanto, não se pode dizer que o panorama de hoje será o mesmo daqui a duas semanas", afirmou.
Via diplomática
"Uma coisa parece muito clara ao meu ver: se os EUA acharem necessário, irão para o confronto militar. No momento, acho que os norte-americanos querem esgotar a rota diplomática", disse.
"As equipes da ONU não podem confiar no que o Iraque diz. Os iraquianos passaram seis anos tentando esconder armas, documentos e os componentes que usa em seu armamento. Ainda há uma grande quantidade de produtos químicos usados para compor o gás VX, que afeta o sistema nervoso, e eles sonegam essas informações", disse Trevan.
Para ele, o governo iraquiano cometeu um grande erro ao não dar nenhuma transparência aos seus programas militares nos últimos anos.
"O Iraque poderia ter se livrado dessa inspeção da comissão especial de desarmamento da ONU há seis anos se tivesse cooperado", afirmou.

Texto Anterior: Fracassa missão da ONU no Iraque
Próximo Texto: China desvia rio para erguer a maior represa do mundo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.