São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Seringas infectam um terço dos doentes

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um conjunto de instituições que vai do Ministério Público ao Judiciário, passando pelo Legislativo, conseguiu impedir a implantação dos programas de troca de seringas. Trabalhos científicos em vários países, recomendações do Ministério da Saúde e pedidos de instituições internacionais -como a Organização Mundial da Saúde- foram ignorados.
Por conta dessa resistência, quase um terço de todos os doentes de Aids no país se infectou usando drogas. "Familiares das vítimas já tentaram uma ação responsabilizando o Ministério Público", diz a psicóloga Regina de Carvalho Bueno, coordenadora de projetos do Iepas (Instituto de Estudos e Pesquisas em Aids) de Santos.
"Trata-se de uma ação de saúde pública que foi impedida pelos operadores do direito", diz o advogado Alberto Zacharias Toron, ex-presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes.
A primeira tentativa de implantação de um programa de troca de seringas no Brasil aconteceu em 1989, em Santos. Ameaçados de cadeia por uma ação do Ministério Público, o secretário da Saúde da cidade e o coordenador do programa desistiram.
O número seria muito maior se pudessem ser contados todos os que se infectaram nesse período e ainda não apresentaram sintomas.
Estudos mostram que os programas de troca não acabam com a infecção, mas a reduzem de forma significativa. Revelam também que os programas de vários países criaram vínculos com os usuários, que passaram a frequentar os serviços de saúde.
Uma projeção feita por Peter Lurie, da Universidade da Califórnia, estimou que a implantação de programas desde 1987 poderia ter salvo entre 4.394 e 9.666 vidas nos EUA. A economia para o país poderia chegar a US$ 500 milhões.
"Um estudo semelhante será feito no Brasil", diz Regina.
(AB)

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