São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997 |
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'Déficit público cai, mas ainda é elevado'
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O ministro Pedro Malan (Fazenda) diz que o governo tem conseguido reduzir o déficit público, mas admite que ele ainda é "elevado".* Folha - Por que o mercado continua nervoso depois das medidas adotadas pelo Banco Central? Pedro Malan - O mercado está nervoso no Brasil, no Reino Unido, em todos os países do mundo. As pessoas acham que certas coisas só ocorrem no Brasil, o mercado só fica nervoso no Brasil. Não é verdade. Há um nervosismo, uma turbulência acontecendo. Caiu a Bolsa de Hong Kong, há o nervosismo na Tailândia, o primeiro-ministro renunciou. Há incertezas na Coréia, incertezas quanto ao pacote financeiro para a Indonésia... É importante situar essas coisas em seu contexto mais amplo e não ficar achando que está tudo bem com o resto do mundo e só no Brasil tem gente nervosa. Folha - Voltaram a circular boatos de quebra de instituições financeiras, o que seria um dos motivos para o nervosismo do mercado. Malan - Deixa eu começar por aí. Não existe nenhuma quebra de banco, mas boatos sempre existiram. Eles assumem uma importância maior, infelizmente, em momentos de maior turbulência e de incertezas. Não há nenhum grande banco comercial brasileiro ameaçado. Agora, o que se vai fazer contra a irresponsabilidade e a leviandade? Folha - Este é o pior momento do Plano Real? Malan - Não. O pior momento do real foi quando estávamos pensando como fazê-lo, como desenhá-lo, como lançá-lo, como explicá-lo, como justificá-lo, no segundo semestre de 1993. Aquele foi o pior momento, estávamos como uma inflação de 2.700% ao ano, 30% a 40% ao mês, um país totalmente desacreditado, sem nenhum acesso ao mercado internacional, praticamente sem acesso a investimentos diretos estrangeiros, negociação da dívida externa ainda por concluir. Folha - O governo não estava demorando a fazer o ajuste fiscal? Malan - Nós estávamos caminhando na direção correta, de reduzir o déficit público. Os últimos dados divulgados pelo BC mostram, por exemplo, que o déficit nominal do setor público no período de 12 meses, que terminou em 31 de agosto de 1997, foi de 4,68%. Nos 12 meses que terminavam em 31 de agosto de 1996, ele era de 7,25%. O déficit operacional é, no mesmo período, de 2,88% do PIB. E ele era 5,22%. Agora, eu volto a insistir que o déficit público tem quatro dimensões (União, Estados, municípios e estatais). Eu digo isso para mostrar que o problema é complexo, que não é simples. Porque eu vejo as pessoas dizerem: 'olha, vai lá e faz'. Nós não estamos mais no período do AI-5, não há mais um general de plantão, o ministro que dava uma canetada e as coisas aconteciam no dia seguinte. Isso aqui é uma democracia, essas coisas têm de ser conversadas, têm de ser discutidas, há um esforço de persuasão envolvido e a ação do governo é clara. Mas há empresas públicas, três níveis de governo, Previdência Social, 27 Estados, 5.525 municípios e o Executivo federal. Quer dizer, esse número aqui (mostrando o resultado do déficit público) diz respeito a esse conjunto. Portanto, reduzi-lo significa atuar nessas quatro dimensões com determinação. O fato é o seguinte: esse déficit, apesar dessa queda expressiva, na comparação internacional que se faz, é um déficit elevado. Folha - Reduzir esse déficit é uma tarefa árdua? Malan - É óbvio que é árdua. Só não é para quem está no mundo da lua ou com saudades de outros períodos em que um regime autoritário resolvia fazer isso de um dia para outro e pronto, dá para você anunciar em 24 horas. Nós estamos caminhando na direção correta, só que, com a crise, nós temos de caminhar com mais intensidade na mesma direção em que já vínhamos. Folha - O ajuste fiscal sai na próxima semana? Malan - Sim. Folha - Como serão as medidas? Malan - Não vou fazer comentário sobre isso no momento. Eu não vou entrar em detalhes. Não há nenhum país sério do mundo em que o governo, enquanto está discutindo, está ao mesmo tempo comunicando como está fazendo sua discussão interna. Folha - O governo começou a semana dizendo que a turbulência ainda não havia acabado. Os primeiros dias foram bons. Mas depois o nervosismo voltou. Qual a previsão para a próxima semana? Malan - Não. Ainda é cedo. Malan - Que conselho o sr. daria para o consumidor? Malan - No momento, certamente, não faça compras a crédito com essas taxas. Compre à vista se você tiver condições ou deixe os seus recursos depositados na caderneta para comprar em melhores condições. Folha - Qual será o ritmo de queda das taxas de juros? Malan - Foi bom você fazer essa pergunta, porque eu quero chamar a atenção para uma diferença fundamental. Nós elevamos os juros em março de 95, quando da crise do México, por duas razões. A primeira delas, a mais importante, era o superaquecimento da economia brasileira que ia fazer descarrilhar o real. Não sei se vocês se lembram, mas o PIB no primeiro trimestre de 95 sobre o primeiro trimestre de 94 crescia 10% em termos reais. Isso obviamente era uma trajetória absolutamente insustentável. Essa foi a razão principal pela qual nós elevamos os juros. A segunda razão eram as turbulências associadas à crise mexicana. Agora, em outubro de 1997, só tem uma razão. Hoje a economia não está superaquecida. Então, a trajetória de declínio, muito lenta, muito gradual, que ocorreu a partir de julho de 1995, não precisa ser reeditada agora. Ou seja, hoje não temos uma economia superaquecida, é só turbulência. Por isso nós estamos com uma medida emergencial, transitória. E a queda virá, tão mais rapidamente quanto a turbulência seja amainada. Texto Anterior: Alta dos juros afeta atividade econômica Próximo Texto: Novos juros encarecem serviços bancários Índice |
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