São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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'Esquerda' quer manter convenção

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A "esquerda" do PT não aceita o adiamento da convenção extraordinária do partido, marcada para dezembro. "Do ponto de vista formal, adiar significa estuprar o nosso regimento", afirmou Valter Pomar, um dos vice-presidentes da legenda.
A proposta de transferir para março a convenção, que em tese deverá definir a candidatura presidencial do PT, é do deputado federal João Paulo Cunha (SP).
Embora ligado a Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Cunha é contra uma nova tentativa do líder petista para chegar ao Palácio do Planalto -concorreu e foi derrotado em 1989 e 1994.
Justificativas
Cunha tem três argumentos para o adiamento: resoluções políticas não teriam repercussão em dezembro, qualquer candidato escolhido na ocasião não cresceria nas pesquisas até março e, por fim, não adiantaria definir aliança nacional sem que os palanques estaduais estejam projetados.
O deputado petista vai entregar hoje a membros da Executiva do partido o pedido de adiamento da convenção.
Pomar, um dos líderes das facções mais à esquerda do espectro político petista, disse que a convenção extraordinária, marcada para dezembro por sugestão do grupo de Cunha e Lula, só poderia ser adiada por decisão de uma outra convenção.
"O que querem é adiar a inevitável decisão de lançar a candidatura Lula", diz Pomar. A protelação, no entender do dirigente, entre outras coisas permitiria a abertura de espaço para o surgimento de candidaturas fora do PT.
Contra
José Dirceu, o presidente nacional do PT, manifestou-se contra a idéia de Cunha, embora o deputado pertença a sua corrente no partido.
"Quando a nossa convenção for realizada, já teremos a posição dos outros partidos sobre a candidatura presidencial e não tem sentido não apresentarmos Lula como nosso nome", declarou.
A questão levantada por Cunha revela a divisão sobre a conveniência de uma terceira postulação presidencial de Lula. As dúvidas existem principalmente entre os petistas mais próximos a Lula, que temem o efeito de uma possível nova derrota.
A "esquerda" do PT, embora considere amplo demais o arco de alianças exigido por Lula para concorrer, é unânime na defesa da candidatura do líder.
Pesa aí principalmente o pragmatismo: Lula é a figura que teria mais condições de ajudar a eleger bancadas de parlamentares e daria caráter classista à disputa com o presidente Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição.
Lula não quer entrar no páreo, mas está sendo convencido por seu partido de que a hora de recuar já passou.

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