São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Governo dá verba 'maquiada' a deputados

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal está usando os créditos suplementares enviados ao Congresso nesta semana para liberar verbas para obras de interesse dos parlamentares da sua base.
Os pedidos dos governistas foram incluídos nos projetos de lei do Executivo que compõem o "jumbão" (conjunto de proposituras que abrem créditos suplementares).
A prática de "emprenhar" emendas em projetos do Executivo é conhecida. Em vez de apresentar emendas formais aos projetos, bancadas estaduais e parlamentares de maior prestígio apresentam seus pedidos diretamente nos ministérios, quando o Orçamento ou os créditos especiais estão sendo preparados.
Essas "emendas" são aceitas e passam a fazer parte dos projetos do Executivo que vão para o Congresso, o que garante a liberação dos recursos. Os demais parlamentares precisam se articula, para aprovar em plenário as emendas que apresentam formalmente.
A Folha teve acesso a documentos do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) que comprovam que o "jumbão" deste ano está repleto de emendas "emprenhadas".
Os documentos trazem a descrição do trecho de estrada a ser atendido, o valor a ser liberado e o autor (ou autores) do pedido ao Ministério dos Transportes (veja quadro abaixo).
A nova estratégia do governo é descoberta num momento em que a maioria dos deputados do chamado "baixo clero" está pressionando os líderes partidários, para conseguir junto ao Executivo o atendimento das emendas apresentadas ao Orçamento deste ano.
Na maioria dos casos, são emendas de R$ 50 mil, R$ 100 mil ou R$ 200 mil. Sem atender essas emendas, o governo corre o risco de não aprovar a reforma administrativa, em votação na Câmara.
Os documentos do DNER mostram que os parlamentares de maior prestígio recebem um tratamento especial do governo. Os pedidos coletivos também são bem atendidos.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), teve dois pedidos atendidos. Obteve R$ 900 mil para a restauração de trecho da BR-428/PE, entre Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande, e mais R$ 500 mil para a construção de trecho na BR-116/BA, entre Euclides da Cunha e Ibó.
Na quarta-feira, Inocêncio anunciou que o PFL fecharia questão a favor da reforma administrativa. Perguntado sobre a revolta do "baixo clero" com o não-atendimento das emendas, disse: "Neste momento de crise, temos que pensar no país".
Na entrevista coletiva de quarta-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que existe uma orientação para a aceitação das emendas ao Orçamento. "Existem critérios técnicos. Se as emendas couberem nos critérios técnicos, elas são aprovadas."
Pelos documentos do DNER dá para concluir que o critério político foi o mais usado na definição dos créditos suplementares. Num grupo de 20 projetos, no valor total de R$ 21 milhões, só dois são classificados como "técnicos".
Em outros três projetos, na coluna que indica o autor está a sigla MT (ministro dos Transportes). Dois destinam recursos para cidades do Rio Grande do Sul (Lageado, Estrela, Cerro Largo e Porto Xavier), redutos eleitorais do ministro Eliseu Padilha (Transportes).
O senador Carlos Bezerra (PMDB-MT) e o vice-líder do PSDB na Câmara, Pedro Henry (MT), conseguiram R$ 1 milhão para eliminação de pontos críticos na BR-070/MT.

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