São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Medidas invertem o rumo econômico

GUSTAVO PATÚ
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo vai editar um pacote de medidas que nunca seriam adotadas em circunstâncias normais. Na tentativa de reduzir emergencialmente o déficit público, parte-se para providências que vão contra a orientação geral da política econômica.
Embora o objetivo seja aumentar a receita e cortar gastos, os efeitos colaterais são aumento dos custos para as empresas e redução das possibilidades de investimento e geração de empregos -em outras palavras, retração da economia.
A CPMF, nova versão do imposto do cheque, é o melhor exemplo. Originalmente, a equipe econômica era contra a criação do tributo, devido à elevação dos custos para a economia em geral. Agora, fala-se não só na prorrogação da CPMF como na elevação de sua alíquota.
Isso tudo acontece porque a economia brasileira tem duas fragilidades importantes: 1) o governo gasta mais do que arrecada (déficit público) e 2) o país perde dólares sistematicamente pelas operações de comércio e serviços (déficit externo).
Esses dois pontos fracos, evidentes desde o lançamento do Plano Real, estão mais visados agora porque o mundo todo está intranquilo quanto à solidez das economias ditas emergentes.
Por isso, o governo brasileiro quer demonstrar que dispõe de armas para reduzir o déficit público e está disposto a usá-las -é uma forma de dizer ao mundo: o Brasil é um país seguro para os investimentos externos, dos quais depende para não perder os dólares que tem.
Quando o governo gasta mais do que arrecada, é obrigado a tomar dinheiro emprestado. Aumentando sua dívida, é obrigado a pagar mais juros depois, entrando num círculo vicioso de mais déficit e mais dívida.
No início do ano, o setor público -União, Estados, municípios e estatais- tinha uma dívida de R$ 269,2 bilhões. Em agosto, já devia R$ 281,7 bilhões. Em 12 meses, gastam-se R$ 39 bilhões além da arrecadação.
Não há tanto dinheiro no país disponível para emprestar ao governo. Por isso, o setor público brasileiro é dependente de capital externo, ou seja, do dinheiro que é investido aqui em busca de um retorno maior mais tarde.
O tamanho dessa dependência é medido de acordo com as dimensões da economia. No caso brasileiro, o déficit público é de 4,7% do PIB (Produto Interno Bruto), considerado um índice alto para um país de pouca credibilidade internacional.

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