São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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O tempo mudou em Brasília

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Depois de meses de sol inclemente, seca contínua e temperaturas subsaarianas, ontem o tempo mudou em Brasília. O dia amanheceu meio nublado. À tarde, começou a ventar. E houve as tais "chuvas em pontos isolados" de que tanto ouvimos falar nos boletins meteorológicos.
Para quem é supersticioso, pode ter sido o prenúncio de algo grave que estava por vir. E está.
Se o pacotão fiscal que o governo anunciar hoje não satisfizer os agentes econômicos, a tempestade no mercado financeiro deve continuar.
Por outro lado, o Congresso também pode ficar irritadiço se as medidas adotadas atrapalharem os planos de reeleição de alguns parlamentares.
O governo caminha no fio da navalha. Precisa fazer várias coisas ao mesmo tempo. Estancar a sangria de confiança que tomou conta do país. Cortar seus gastos e aumentar a arrecadação. Agradar a opinião pública. E não pode melindrar o Congresso. É uma equação difícil.
Em meio a essa conjuntura complicada, já é possível dizer que o governo está prestes a cometer um erro. Deixará o dia de hoje começar sem que ninguém consiga cravar, com segurança absoluta, quais são todas as medidas e os efeitos esperados pelo governo.
Como o Planalto confia no que faz, é lógico inferir que espere uma boa resposta dos meios financeiros e políticos. Nesse caso, nada melhor do que dar ampla divulgação ao pacote.
Só que os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, Antonio Carlos Magalhães, pouco sabiam sobre as medidas até ontem à tarde. Exatamente eles, escalados entre os principais defensores do pacotão.
Em Salvador, sem querer falar bem nem mal, ACM dizia uma frase enigmática: "Nessas horas, saber demais pode ser até ruim".
De toda forma, assim como o tempo esfriou de repente ontem em Brasília, pode ser que FHC consiga, ele também, arrefecer a fervura das Bolsas hoje. Muito embora a reação do mercado seja tão imprevisível como o clima. O jeito é esperar. E torcer.

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