São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Mudança no jogo

JANIO DE FREITAS

As alterações na relação do Congresso com Fernando Henrique, a partir do pacote, talvez não sejam definitivas, mas são fortes, e a política financeira é a sua questão central. Logo, se, além da volta à era dos pacotes, já retorna também a era das discussões em torno de acordos com o FMI, é conveniente ficar claro desde logo que o Congresso não aprovará exigências do Fundo semelhantes às que Carlos Menem está aceitando.
A condição do FMI para um empréstimo de R$ 3 bilhões à Argentina significa nada menos do que uma intervenção de natureza, não financeira nem administrativa, mas institucional. É a própria distribuição de funções entre os poderes constituídos que o FMI quer modificar, com a exigência de que o Congresso perca a atribuição de votar os aumentos de impostos, deixando-os ao arbítrio exclusivo de Menem. Ou seja, do FMI. Menem, como sempre, já se curvou a essa e às demais condições.
Negadas pelo governo, mas sem que a negação produza efeito, as especulações sobre um acordo brasileiro com o Fundo envolvem, umas, a desvalorização do real como condição para o empréstimo; outras, mais cortes nos gastos do governo ou aumentos de impostos acima de resistências do Congresso.
O solitário
Até o dia 9, véspera do pacote, Gustavo Franco era dado na Presidência, entre os peessedebistas em geral e por muitos e muitas jornalistas como um prodígio de inteligência e saber.
Tudo o que é agora identificado pelos governistas como asneiras causadoras da vulnerabilidade do Real é atribuído, por menção ou por insinuação, a Gustavo Franco. São os mesmos atos e tiradas verborrágicas que os críticos de hoje ou subscreviam com seu aplauso ou, no mínimo, recebiam com a conivência do seu silêncio.
Nem as franquetes do jornalismo econômico preservam a fidelidade. E não adianta a desculpa de que a ordem, até existente mesmo, é não provocar a verborragia de Gustavo Franco. O que está havendo é traição mesmo.
A sobrevivência de Gustavo Franco aos punhais do Planalto, do Banco Central, do Ministério da Fazenda e de vários livres-atiradores deve-se, apesar também ou sobretudo de Sérgio Motta, às inconveniências do momento atual.
Palavra oficial
Você que não torce contra, não tem sentimentos impatrióticos e é a favor do aumento do Imposto de Renda porque pensa, com Fernando Henrique, nos pobres, você viu e ouviu com atenção os dois ministros e os tantos secretários apresentando o pacote e, entre outras demonstrações de respeitabilidade pessoal, dizendo que o aumento da gasolina seria "pequeno, de 5%, a não ser em certas localidades em que podia ficar um pouco acima disso".
Mas, se você não tem aquelas qualidades, faça uma continha quando comprar combustível. Contanto que você não se aborreça se constatar, como acontece no Rio, que o aumento beira os 10%.

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