São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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'População é porca', diz secretário de Pitta

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário municipal das Administrações Regionais, Alfredo Mário Savelli, afirmou ontem que a cidade de São Paulo "está suja porque a população é porca".
Segundo Savelli, a prefeitura cumpre o seu papel de limpar as ruas, mas o paulistano não colabora com a manutenção da limpeza.
"Nós limpamos a cidade todos os dias, lavamos todas as noites", garantiu. "Mas, apesar disso, no dia seguinte está tudo sujo outra vez por culpa da população."
Na opinião do secretário, a cidade deveria ser mantida limpa "como ocorre com o metrô". Questionado se uma fiscalização mais rigorosa não inibiria o ato de sujar a cidade, Savelli disse que o problema é de mentalidade e cultura.
"É necessário criar uma maneira de enfiar na cabeça das pessoas que precisamos viver numa cidade limpa", afirmou.
O secretário garante que as áreas mais sujas da cidade, como a praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, são varridas "mais de oito vezes por dia".
No início do mês, o prefeito Celso Pitta determinou corte de 50% no serviço de varrição e lavagem das ruas da cidade.
A medida tem por objetivo reduzir os custos do sistema de limpeza pública, que em setembro já havia estourado o orçamento anual de R$ 255 milhões. Apenas com varrição e lavagem, o município gastou cerca de R$ 150 milhões -de uma verba prevista no início do ano de R$ 104 milhões.
As empresas recebem por metragem varrida -e inexiste qualquer controle ou fiscalização sobre os números apresentados.
O "Diário Oficial do Município" de ontem trouxe a transferência de mais R$ 16,9 milhões para a varrição. Parte desses recursos -R$ 12,5 milhões- veio de obras de pavimentação de vias públicas.
Em julho, Savelli já havia feito outras declarações polêmicas. Ao comentar a retirada dos camelôs da avenida Paulista, na região central da cidade, disse que "não existe mais espaço em São Paulo para as pessoas sem qualificação".
"Os menos instruídos deveriam ir para cidades menores, como Fortaleza, ou para o interior do Estado e para o sul de Minas", afirmou na época. "É duro falar isso, mas, como secretário, sou um observador privilegiado."
Em outubro, enquanto a prefeitura expulsava os ambulantes da praça da Sé, Savelli estava em Miami sem nem sequer ter sido informado da operação que, por dever da função, deveria coordenar.
Apesar de o "Diário Oficial do Município" ter publicado a autorização para uma viagem a interesse da prefeitura, a Folha apurou que Savelli viajou a lazer.
Por telefone, o secretário confirmou que descansava "após seis meses de batalha diária".

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