São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Garotos dominam agente e fogem no Rio

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de dominar um agente educacional, 34 menores fugiram do Educandário Santos Dumont, na Ilha do Governador (zona norte do Rio), na manhã de ontem. Quinze foram recapturados e acusaram a direção da unidade de maus-tratos.
Na sexta-feira passada, 247 fugiram da Escola João Luiz Alves, vizinha ao Santos Dumont, em meio a uma rebelião que terminou com um adolescente morto e outro ferido a bala. Para os internos, um PM matou Genivaldo Oliveira de Araújo Júnior, 16.
Os garotos, que depredaram instalações do João Luiz Alves, também acusaram a direção de maus-tratos, como espancamentos e falta de água. Dos rapazes que fugiram na semana passada, 212 continuavam foragidos até ontem.
Com os fugitivos de ontem, existem ainda 231 adolescentes infratores nas ruas. O comandante do 17º BPM (Batalhão de Polícia Militar), tenente-coronel Paulo Cardoso, disse que os 34 que fugiram ontem são assaltantes e traficantes de drogas perigosos.
O Santos Dumont funcionava, até há seis meses, apenas como um internato para mulheres. Com a superlotação do João Luiz Alves, passou a receber meninos considerados mais perigosos -que ficam em seis celas isoladas da ala feminina.
A fuga ocorreu por volta das 11h. O agente educacional Roberto Walblach disse em depoimento na 37ª DP (Delegacia de Polícia, na Ilha do Governador) que foi abrir uma das celas, para que alguns adolescentes tomassem banho, e acabou dominado.
Walblach evitou os jornalistas. Segundo o delegado de plantão Jonas de Sousa Machado, o agente declarou que não foi agredido pelos internos. Cercado por 15 garotos, teria sido agarrado pelo pescoço.
"Ele estava irritado porque os colegas não foram ajudá-lo", disse Machado. Os adolescentes teriam então pego as chaves de Walblach, abrindo outras celas. Cerca de 60 garotos estavam em seis celas, sendo que 34 fugiram.
Os meninos pularam o muro e alguns se esconderam na vizinhança. Logo após a fuga, PMs e agentes do educandário conseguiram recapturar 15 dos rapazes.
Levados para a 37ª DP, os garotos criticaram o educandário. "A gente está apanhando direto e fica o dia todo trancado, sem sair para tomar sol", afirmou L.C.F., 17, que reclamou também da superlotação e da comida.
Menores como L.C.F. reclamaram que muitos continuam presos mesmo depois de expirar seu período de detenção. F.S.D., 17, disse que deveria ter saído no último dia 13, mas que até ontem continuava detido. Para o comandante do 17º BPM, a direção do educandário foi negligente ao permitir que um agente abrisse uma cela sem a devida escolta de segurança.

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