São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Morre em Miami o colunista Zózimo

Jornalista carioca, 56, tinha câncer no pulmão

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MIAMI

O colunista carioca Zózimo Barrozo do Amaral morreu ontem aos 56 anos de infecção generalizada, em decorrência de um câncer no pulmão, no hospital Mount Sinai, em Miami (Flórida, sul dos EUA).
O jornalista, que assinava uma coluna diária no jornal carioca "O Globo", estava abraçado à sua mulher, Dorita, quando morreu, às 17h40 (20h40 de Brasília). Sua última palavra foi dirigida a ela -chamou-a de "amorzinho".
O enterro será no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio, mas ainda não tem data definida. O filho único do colunista, Fernando, embarcou ontem para Miami para cuidar da liberação do corpo.
"Ele deixou uma lição de dignidade e coragem que os filhos e amigos deveriam aproveitar. Morreu em paz, tranquilo", declarou Dorita à Folha, em Miami.
Segundo Dorita, "o sistema dele pifou". A explicação sintetiza o estado de deterioração em que o corpo de Zózimo se encontrava nos últimos dias. Ele já não respirava sem a ajuda de aparelhos.
O câncer no pulmão foi detectado há cerca de dois meses, já em estado avançado. Com o início do tratamento, seu pulmão foi debilitado e ele contraiu uma pneumonia, que evoluiu para uma infecção generalizada do sangue.
Nas palavras de uma pessoa da equipe que atendeu Zózimo (ele permaneceu 33 dias no hospital), ele aparentava ter 80 anos quando morreu.
Os primeiros sinais do câncer surgiram há três meses, quando Zózimo começou a sentir fortes dores no ombro direito.
Colunista social
Segundo contava o colunista, foi a partir de uma conversa com o empresário Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, que Zózimo Barrozo do Amaral decidiu que seu nome se tornaria sinônimo de colunismo social.
Na época, início de 1969, o jornalista havia recebido uma proposta para trocar o jornal "O Globo", onde fazia a "Coluna Swann", pelo "Jornal do Brasil", que lhe acenava com a possibilidade de ter uma coluna com seu nome.
Segundo o colunista, Roberto Marinho argumentou que Zózimo, então com 27 anos, faria uma bobagem se aceitasse a proposta. "Todo mundo conhece Carlos Swann e ninguém sabe quem é Zózimo Barrozo do Amaral", teria dito Marinho. O colunista aceitou a proposta e foi para o "Jornal do Brasil".
O nome do colunista acabou virando uma espécie de grife no jornalismo e, 24 anos depois, a coluna trocou de pouso -deixou o "Jornal do Brasil" e foi para "O Globo" em julho de 1993.
Uma das características das quais Zózimo mais se orgulhava era ter criado uma coluna com notícias numa época em que os colunistas sociais só se preocupavam com festas da sociedade.
Outra característica: as frases irônicas com as quais encerrava suas notas. Numa delas, ao comentar uma cena que vira na cidade, escreveu: "O Rio é a única cidade onde caminhão de lixo aposta corrida com ônibus escolar".
Nos primeiros anos de sua carreira, Zózimo podia ser encontrado em todas as festas da sociedade carioca, além de frequentar vários restaurantes por noite.
No início dos anos 90, mudou seu estilo. Abandonou as festas e os restaurantes. "Cansei da liturgia de me emperiquitar todo, ter que fingir naturalidade, ouvir conversas desinteressantes", disse em uma entrevista.
Por um curto período de tempo, cansou também do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. Depois que a enteada Gabriela sofreu uma ameaça de sequestro, decidiu mudar-se para Miami.
Poucos meses depois, a decisão foi revogada. O anúncio foi feito aos leitores em uma crônica onde exaltava as belezas da cidade.
Zózimo Barrozo do Amaral era casado com Dorita Moraes Barros. De seu primeiro casamento, com a artista plástica Márcia Barrozo do Amaral, tinha um filho, Fernando.

colaborou a Sucursal do Rio

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