São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Acordo leva à perda de soberania, diz Franco

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, disse, em entrevista publicada ontem pelo jornal argentino "Clarín", que o Brasil não necessita do FMI (Fundo Monetário Internacional). "O que o Fundo pode nos pedir em termos de equilíbrio fiscal e privatizações nós já estamos fazendo."
Segundo Franco, "os ajustes lançados pelo Brasil respondem às receitas do FMI" e, "quando existem acordos de crédito com o fundo, há uma perda de soberania, e isso pode ser aceitável para outros países, mas não para nós".
"Pode-se fazer um acordo pela necessidade de bons conselhos, mas não é o nosso caso. Também se pode fazer pela necessidade de dinheiro, mas também não é o nosso caso. Pode-se fazer, por último, por uma questão de credibilidade, quando essa não existe ou é deficiente. Também penso que hoje não é o nosso caso, tendo em conta as recentes medidas econômicas que tomamos. Essas são três boas razões para não fazermos o acordo com o fundo."
Franco refutou a necessidade de ajuda externa alegando que "a nossa situação é sólida e temos nossos recursos". De acordo com ele, "tem muito mais valor conseguirmos resolver nossos problemas sem ter que ir ao hospital".
Em entrevista para a Folha sábado à tarde, em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que as medidas adotadas pelo Brasil para superar a crise econômica provocada pela queda nas Bolsas não é diferente daquelas que o FMI recomendaria.
Malan definiu as medidas tomadas pelo Brasil como uma demonstração de economia saudável e afirmou que o aval do FMI é um "selo de qualidade" do qual o país não necessitou.
O Ministério da Fazenda divulgou ontem nota para reafirmar que o governo não tem intenção de negociar um acordo com o FMI.
A nota teve o objetivo de esclarecer as declarações feitas por Malan ao jornal argentino "La Nación", no último domingo, que geraram mal-estar no governo.
Ao "La Nación", Malan disse que haveria "vantagens importantes" no caso de um acordo com o FMI: dar maior credibilidade à política econômica e reforçar o caixa em moeda forte do BC.
Segundo a nota, Malan fez "considerações genéricas" sobre as vantagens de um acordo com o fundo, o que não significa que o acordo esteja sendo cogitado.
"O ministro reitera que nenhum empréstimo foi pedido pelo Brasil ao FMI. O Fundo, por sua vez, não o ofereceu ao país porque não o considera necessário no momento, já que está de acordo com as linhas gerais da condução da política econômica brasileira, fato expresso em declaração formal do gerente do fundo", diz a nota.
Malan também falou sobre o assunto. Disse que o Brasil não tem "nenhum complexo de inferioridade nem de dependência cultural em relação ao FMI".
"Não sei o porquê de darem manchete sobre esse assunto", afirmou, sobre a repercussão de suas declarações nos jornais.
O ministro recebeu ontem à tarde o presidente da Bolsa de Valores de Nova York, Richard Grasso, que disse que o governo brasileiro adotou as medidas corretas.
Grasso falou sobre a confiança dos investidores norte-americanos no mercado brasileiro.
Otimismo
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem um discurso otimista para empresários.
Citando conversas que manteve com alguns investidores estrangeiros nos últimos dias, FHC disse que eles "reafirmaram a confiança no Brasil porque (o país) é um grande setor de oportunidades".
"No momento em que nós, hoje, estamos assistindo a dificuldades na cena internacional, não podemos perder de vista a economia real, a sociedade real. Aquilo que realmente conta e é permanente, que não vai subir e descer, como as oscilações que podem acontecer no mercado financeiro", afirmou

Colaborou a Sucursal de Brasília

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