São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Brasil deu visto a 8 nazistas procurados

ROGÉRIO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro concedeu vistos e permitiu a entrada no país, em 1946, de oito alemães ligados ao Terceiro Reich, proibidos de deixar a Alemanha pelo governo alemão instalado logo após a Segunda Guerra Mundial.
A informação foi obtida pela comissão que apura a existência de patrimônios nazistas no Brasil (criada este ano pelo governo federal), com base nos arquivos do serviço de imigração da época.
Segundo o secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, integrante da comissão, o objetivo agora é identificar o destino dos oito nazistas no Brasil.
"Agora nós queremos acompanhar o percurso financeiro desses oito alemães", afirmou Gregori à Folha. "Mas ainda não temos nada no sentido da localização de um nazista que tenha se apropriado de recursos de judeus." Para Gregori, a comprovação de que nazistas procurados pelas autoridades alemãs entraram no Brasil com autorização do governo revela conivência com o nazismo mesmo depois do fim do Estado Novo.
"Conseguimos elementos para verificar que a atitude da ditadura Vargas foi sempre muito ambígua, e essa ambiguidade também atingiu o governo Dutra", disse.
Nos próximos dias, a comissão deverá ter acesso ao cofre do alemão Albert Blume, cuja fortuna, avaliada em cerca de US$ 4 milhões, é disputada na Justiça.
O secretário disse acreditar que o conteúdo do cofre não reserva nenhuma surpresa. Segundo ele, o interesse da comissão está concentrado nos diários de Blume. Dois diários estão atualmente com o advogado Ricardo Penteado, responsável pelo inventário. Mas, segundo Gregori, no cofre ainda há outros diários, cujo conteúdo é desconhecido.
Encontro
Entre os dias 2 e 4 de dezembro, Gregori participa, em Londres, de um encontro das cinco comissões criadas para apurar a existência de patrimônios de judeus usurpados por nazistas -além do Brasil, criaram grupos EUA, Suíça, Reino Unido e França.
A comissão brasileira ainda será representada pelo rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista.
Para o secretário, o Brasil poderá verificar, com o encontro, se está atrasado ou adiantado em relação às outras comissões. Um dos destaques dos debates deverá ser a atuação dos bancos suíços, que, pressionados pela opinião pública, divulgaram os nomes dos titulares de contas bancárias inativas.
Mas parte da comunidade judaica os acusa de sonegar informações. José Gregori acredita que o encontro permitirá à comissão brasileira avaliar melhor a recente conduta dos bancos suíços.

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