São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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O PROER JAPONÊS

Antes da crise na Tailândia, a economia japonesa patinava numa estagnação motivada principalmente pelo estouro, no início dos anos 90, de sua própria bolha especulativa no mercado imobiliário. Embora o governo japonês relutasse em fazer as reformas necessárias para superar a crise local, a gravidade dos problemas na Ásia levou Tóquio a uma iniciativa mais ousada, em especial no sistema financeiro. E a crença numa intervenção estatal mais vigorosa propiciou uma recuperação dos mercados asiáticos nos últimos dias.
Há medidas de estímulo fiscal -aumento de gastos e promessa de redução de impostos em 98; há também um cronograma de reforma do sistema bancário, a qual se acelera na medida em que as instituições assumem seus prejuízos e se preparam para uma onda de fusões. O ponto alto é a mobilização de fundos (avaliados em US$ 64 bilhões) para financiar essa reestruturação financeira que, aliás, segue em linhas gerais os princípios do Proer brasileiro.
O governo japonês finalmente lidera um esforço regional com o objetivo de criar um fundo de até US$ 100 bilhões para apoiar o ajuste em países abalados nos últimos meses, como a Indonésia, a Tailândia e, agora mais que nunca, a Coréia do Sul.
Não há propriamente uma novidade em termos de política econômica. Como em outros países em muitos momentos da história contemporânea, é o Estado que surge como o credor em última instância, o garantidor das operações em mercados que se tornaram mais irracionais que exuberantes. O Estado assume prejuízos e socializa os custos da crise.
Novidade haverá apenas se, junto com os fundos, o governo japonês e os outros da região conseguirem de fato reformar a economia, o setor público e as instituições financeiras.
A receita é conhecida. Seu sucesso depende da capacidade política de implementá-la, a qual, no Japão como alhures, nunca foi convincente.

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