São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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NÃO AOS CASSINOS

O ministro da Justiça, Iris Rezende, esteve ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para defender o projeto que prevê a legalização dos cassinos e de uma loteria similar ao jogo do bicho. Disse que, por sua formação evangélica, é contra a proposta, mas, ainda assim, defendeu-a como ministro, por considerar que os cassinos irão criar empregos, aumentar a arrecadação de impostos e fomentar o turismo.
Ora, ao contrário do que argumenta o ministro -o mesmo que, logo depois de assumir o cargo, disse que "o crime, muitas vezes, é inevitável"-, os cassinos não criam empregos nem atraem divisas de turistas em montantes significativos mesmo em grandes centros de jogo legalizado. O próprio secretário-executivo do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, Paulo Jobim Filho, afirma que não há nenhum indício claro de que a legalização do jogo atrairia mais turistas ao país.
O ponto principal, porém, é outro. Cassinos têm efeitos desagregadores na vida dos indivíduos e das sociedades que os acolhem; são um incentivo à lavagem de dinheiro, ao narcotráfico e à expansão da violência -como o mostram estatísticas de cidades com casas de jogo nos EUA.
Nem é preciso ir tão longe. Mesmo no Brasil, onde o jogo é proibido desde 1946, os problemas a ele relacionados são evidentes. Tome-se como exemplo as relações promíscuas entre o bicho e o tráfico de drogas em cidades como São Paulo e Rio.
Os poderes públicos, além de serem omissos em relação à prática ilegal do jogo, têm sido tolerantes, para dizer o mínimo, com formas maquiadas de jogo, a exemplo do que ocorre com os bingos e os sorteios pela TV, que, em tese, deveriam beneficiar instituições de caridade.
Conter a degradação social que o jogo estimula é um dever do Estado. O que é preciso sim é combater a expansão ilegal do jogo e restringir ao máximo as suas formas legais.

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