São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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A culpa é sempre dos outros

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

São Paulo - Além de porca, o secretário das Administrações Regionais de São Paulo, Alfredo Mário Savelli, acha que a população paulistana reage ao pior clichê de psicologia infantil.
Ontem, o colaborador da asseada administração Celso Pitta disse que o fato de ter chamado a população da cidade que lhe cabe manter limpa de porca, era apenas uma forma de instigá-la a não jogar papel na rua.
Pela lógica de Savelli, alguém diz que fulano é porco, e este, de repente, transforma-se em modelo de limpeza. Se fosse tão simples, bastaria à população chamar administradores públicos de ineptos e eles se tornariam competentes.
Apesar do entusiasmo do secretário com sua estratégia de marketing, não me parece uma tática recomendável.
Além de cometer uma injustiça com parte dos governantes, a população certamente ficaria rouca de tanto gritar antes de lograr alguma melhoria na administração da cidade.
A estratégia Savelli pode não funcionar, mas é tremendamente cômoda para quem está no poder. Assim, em vez de aumentar a eficiência da varrição das ruas, transfere-se a tarefa para quem paga por ela.
A população pode até não ter sido educada para não sujar sua própria cidade, mas não é sendo chamada de porca que vai mudar de atitude.
O secretário poderia adaptar-se a outra máxima sua. Aquela com a qual brindou os paulistanos em julho. Segundo ele, "os menos instruídos deveriam ir para cidades menores, como Fortaleza, ou para o interior".
Cidade menor por cidade menor, Savelli poderia ameaçar mudar-se definitivamente para Miami caso, a população não limpe São Paulo.
Em qualquer hipótese resolveríamos ao menos um problema da cidade.
*
Savelli faz escola. O diretor de Esportes do Banco Excel, Mário Sérgio Pontes de Paiva, disse ao repórter Luiz Cesar Pimentel, da Folha, que o torcedor corintiano é responsável pela má fase do time.
Equivale a culpar os correntistas pela falência do Banco Econômico.

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