São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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O PSDB e os riscos eleitorais

TEOTONIO VILELA FILHO

Quando o PSDB ofereceu apoio imediato e integral ao conjunto de medidas econômicas de defesa do Plano Real, muita gente perguntou se essa solidariedade incondicional a ações duras e até impopulares não representaria um suicídio eleitoral.
Compreendo a preocupação, mas estranho a pergunta. Se estivesse interessado em evitar riscos eleitorais, o PSDB não teria disputado as eleições de 1996 com propostas igualmente duras, como o ajuste fiscal, a necessidade de demissões ou de suspensão de aumentos para o funcionalismo, cortes de despesas e Orçamento espartano.
A austeridade fiscal e a urgência da reforma do Estado em todos os níveis foram o cerne de nosso discurso. Ninguém do PSDB subiu ao palanque para renegar as reformas, por mais incompreendidas que fossem.
A reação do eleitorado, que deu ao PSDB o melhor desempenho entre todos os partidos, dá a certeza de que o país está muito mais informado, politizado e maduro do que alguns imaginam. Já se distingue com muita clareza o que é demagogia inconsistente e populismo inconsequente. E o eleitorado já identifica e repele o que lhe parece apenas oportunismo político ou dubiedade programática.
Em sua origem, o PSDB saiu do governo para a oposição em nome da coerência política e do compromisso histórico com o Brasil. A muitos isso também pareceu suicídio eleitoral, mas o partido estava interessado em responder à história, não em fazer carreira.
As medidas econômicas emergenciais são também prova de responsabilidade política e de compromisso histórico, sem nenhum desvio eleitoreiro. Elas não representam ruptura com a condução de nossa política econômica, mas sim uma aceleração que se fez necessária diante de uma conjuntura internacional adversa, especulativa.
É a mesma natureza das reformas estruturais propostas. Do ponto de vista eleitoral, a reforma administrativa e a da Previdência correm risco de incompreensão e impopularidade. Mas o governo insiste em sua aprovação pelo convencimento de que sem elas, em breve, não existirá garantia de seguridade social nem segurança de serviços essenciais. Persistirá apenas um Estado enfraquecido em sua falência fiscal.
No caso da reforma do Estado ou da defesa do Plano Real, o governo se antecipa. Com um remédio amargo, mas indispensável. Quem não tem coragem de tomar o remédio necessário na hora prescrita corre o risco de neutralizá-lo e condenar o doente.
O PSDB tem consciência de que o governo quis preservar o Plano Real no que tem de mais valioso para os brasileiros: a estabilidade, que acabou com o iníquo imposto inflacionário; a segurança, que permite planejar o futuro sem sobressaltos; a justiça, que permite distribuir renda e democratizar o desenvolvimento e o bem-estar.
É claro que, entre as 51 medidas propostas, sempre haverá a possibilidade de mudar aqui e ali algum ponto acidental, como o fim dos limites de isenções para o Imposto de Renda das pessoas físicas.
Estabelecer, por exemplo, que as taxas de embarque internacional sejam proporcionais ao valor dos bilhetes e não imutavelmente fixas para quem viaja ao Japão ou à Argentina não muda a essência das medidas nem o alcance de seus propósitos.
Era urgente defender o Real, e indispensável apoiar essa defesa. Ou alguém perdoaria um governo que ficasse de braços cruzados vendo quase US$ 10 bilhões (cerca de 15% de suas reservas) saírem do país em poucos dias?
Alguém entenderia uma desvalorização da moeda, como tentaram o México, em 95, e as Filipinas, ainda há pouco? O México pensou numa desvalorização de 20%, bateu nos 100% e não teria encontrado o fundo do poço sem uma vigorosa cruzada internacional de defesa do peso mexicano.
Os países que fizeram, agora, desvalorizações apressadas logo perceberam que quem cede à pressão especulativa para "mexidas" cambiais perde o controle sobre sua moeda e sua política e vira refém da especulação.
O governo fez o que tinha de fazer. O PSDB também. Isso tem outro aspecto muito positivo. Acabou a história de que, no Brasil, não se tomam medidas impopulares às vésperas de eleições.
As decisões do governo sinalizam exatamente no sentido contrário: a crise se enfrenta quando ela surge, com as medidas que o momento exige. Quem não percebeu isso ou não acompanha o amadurecimento político do Brasil ou ainda pensa em conhecidas e reprovadas práticas de estelionato eleitoral.
Para os dois casos, o país responderá como em 1996, premiando a seriedade e a coerência, contra a demagogia, o oportunismo e a dubiedade.

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