São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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O futebol e a violência

RUBENS APPROBATO MACHADO

ESPECIAL PARA A FOLHA

A violência não é exclusividade do futebol. Grassa, infelizmente, em todos os setores. É, porém, no futebol, esporte de massa, que ela tem campo fértil de proliferação. As paixões explodem, os torcedores se concentram em grupos, e o anonimato de seus integrantes incentiva a violência.
O agrupamento faz com que cada um se sinta forte e protegido, dando vazão a uma banalização da violência, em total desamor às regras mínimas de convivência e cidadania.
Fácil é perceber que um terreno fértil da brutalidade de comportamento é, inquestionavelmente, a associação de torcedores em grupos organizados. A impunidade decorrente do anonimato que os atos em grupo geram se torna um pólo de atração, não só para os portadores de personalidade violenta, como também aos fracos isoladamente que, dentro do grupo, procuram proteção e dão vazão a instintos brutais reprimidos.
Nesse contexto, as torcidas organizadas que, de início, se propunham a incentivar seus clubes e animar o espetáculo, passaram a ter personalidade jurídica, sob a forma de associações, com estatuto, administração, símbolos e uniformes próprios, distinguindo-se dos clubes ditos como de suas preferências. O torcedor que era admirador do clube passou a ser torcedor da torcida.
A partir dessa situação, os grupos cresceram na idêntica medida do crescimento de sua violência. Para crescer, a organizada tinha que mostrar ser mais forte que a do seu adversário. O torcedor comum, por um instinto de autodefesa, passou a se abrigar nos grupos tidos como mais fortes.
Os baderneiros encontraram nas torcidas organizadas seu "habitat", e os líderes de tais associações, ante o seu incontrolável crescimento, perderam o comando das ações e, para se firmarem como dirigentes, muitos deles tiveram que mostrar serem mais fortes e mais violentos que os demais.
Ante esse quadro, a opinião pública não titubeou em condenar à extinção as torcidas organizadas. A sociedade civil passou a exigir a adoção de medidas drásticas, firmes, coerentes e justas para se dar um "basta" à violência cruel.
Foi nesse momento que, na qualidade de presidente em exercício da Federação Paulista de Futebol, baixei uma resolução, quebrando a espinha dorsal dessas desvirtuadas organizações, proibindo o acesso e a permanência nos estádios de futebol de grupos de pessoas com a mesma indumentária ou portando materiais identificadores de agrupamentos.
Em decorrência, os atos de violência caíram a quase zero, como comprovam as estatísticas das autoridades policiais.
Agora, em que voltam elas aos noticiários, é conveniente conclamar-se que tais organizações devem mostrar à sociedade, se tiverem, a sua face desportiva, pacífica e de estímulo à beleza do espetáculo, para buscar as suas absolvições perante o tribunal da opinião pública.
Sem isso, não se pode permitir o retorno de uma situação já ultrapassada.

Rubens Approbato Machado é advogado

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