São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Guerra leva freira à bebida

LUIS HENRIQUE AMARAL
DO ENVIADO ESPECIAL

A irmã Maria, 62, é portuguesa e veio ao Brasil há dois anos para se curar do alcoolismo. A seguir, o depoimento da religiosa à Folha.
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"Sou portuguesa, de Fátima, a cidade das três pastorinhas que viram a Virgem. Antes de entrar na vida religiosa, eu conheci o que deixei de lado, tive uns namoricos. Minha decisão foi consciente e não me arrependo. Meu alcoolismo não tem nada a ver com o fato de eu ser freira.
Em 1968, fui para Angola como missionária trabalhar em um colégio da nossa congregação. Os problemas começaram em 74, com a independência do país.
Os portugueses foram embora correndo. Começou a guerra. Nós ficamos. Toda noite havia tiroteio perto do nosso colégio. Morríamos de medo de que acontecesse uma barbaridade. Eu precisava beber para poder dormir.
Em Angola, naquela época, não tinha comida, mas bebida nunca faltou. Eu bebia muito, e não era um bom vinho do Porto, que eu gostava. Era uísque mesmo, que era mais barato. Tinha 38 anos. Acabei voltando para Portugal, mas já tinha desenvolvido a doença. Estava sempre de ressaca e de mau humor. Bebia escondida.
Ultimamente, estava bebendo álcool de farmácia, que é minha grande tentação. Achava que era mais forte e deixava menos cheiro. Mas todo mundo percebia. Fui enviada ao Brasil para me tratar na Vida Nova há dois anos. Hoje, não bebo. Trabalho no Nordeste e venho aqui quando posso, para reabastecer a minha alma."

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