São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Entorno de Brasília é novo pólo de invasões

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Invasões de fazendas e de terras públicas consolidaram na região do Entorno de Brasília um novo foco de concentração de sem-terra e tensão no país.
Até o final deste ano, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) vai criar uma nova superintendência, a 28ª, para lidar com o aumento das invasões nessa área.
Os sem-terra já tomaram posse, principalmente nos últimos três anos, de cerca de 200 mil hectares -área 30% maior do que a cidade de São Paulo. Nesses locais já estão cerca de 6.500 famílias, 8% da meta de assentamentos do governo federal neste ano.
O que é o Entorno
O Entorno de Brasília reúne o Distrito Federal e mais 42 municípios goianos e mineiros que são atendidos por serviços de telecomunicações, abastecimento de água e saúde comandados pelo governo de Brasília.
"O poder central do país e a boa qualidade dos serviços públicos oferecidos no Distrito Federal atraem os imigrantes", disse o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária).
"Essa é uma área que merece atenção especial", justifica o presidente do Incra, Milton Seligman, um gaúcho que mora em Brasília, onde também é dirigente do PSDB.
"A superintendência do Entorno será mais ágil na solução dos problemas", afirmou Seligman.
Invasões
A região tem cerca de 9,6 milhões de hectares, quase o tamanho do Estado de Santa Catarina. No Entorno, segundo o Incra, 50% das propriedades particulares são improdutivas e sujeitas à desapropriação para efeito de reforma agrária.
Esse quadro estimulou o aumento de invasões por sindicatos de trabalhadores rurais, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e pelo recém-batizado MBST (Movimento Brasileiro dos Sem-Terra).
"Estamos fechando o cerco sobre Brasília", afirma Valmir de Oliveira, 24, natural do Paraná. Ele é um dos ativistas do MST deslocados pela direção da entidade para organizar os sem-terra na área de influência da capital federal.
Há dois anos o MST montou escritório perto da Esplanada dos Ministérios para atuar na região.
O movimento expandiu sua atuação no rastro do sucesso da invasão da fazenda Barriguda, em Buritis (MG), a 40 km da fazenda Córrego da Ponte, do presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje, o MST controla 17 assentamentos e acampamentos na região.
Quase todos os 61 assentamentos criados também foram resultado de invasões. Em caso de fazendas produtivas, o Incra e o governo do Distrito Federal têm conseguido áreas para transferir os sem-terra despejados. Isso tem evitado conflitos violentos com fazendeiros.
Pressionado pelas invasões, o governador Cristovam Buarque (PT) criou quatro projetos de assentamento. Mas ele prefere colaborar com os sem-terra acampados em Goiás e Minas Gerais.
"O DF tem apenas 1% das terras do país e não pode pretender resolver os problemas fundiários de outros Estados", disse o governador ao comentar o caso.
Cidades-satélites
Dessas invasões, têm participado principalmente moradores das cidades-satélites de Brasília e dos municípios vizinhos. Eles mobilizam carros, motores para gerar energia, fogões e telefones celulares para estruturar os acampamentos.
Atualmente, há 20 acampamentos na região do Entorno. Seis foram montados na periferia de Brasília para tentar obter terras públicas do Distrito Federal e do governo federal.
"Eles têm derrubado árvores das propriedades vizinhas para montar seus barracos e criar favelas na zona rural, como já aconteceu nas cidades-satélites", afirma o presidente do Sindicato Rural de Brasília, Nuri Andraus.

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