São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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'Doutor camisinha' distribui 300 por dia

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

O médico sanitarista Almir Santana, 44, já é conhecido em todo o Sergipe como o "doutor camisinha". Não sai de casa sem um estoque de 300 unidades e não costuma trazer sobras no fim do dia.
Na capital, Aracaju, as pessoas se sentem à vontade para pará-lo no meio da rua. Numa tarde de sexta-feira, numa avenida da cidade, Santana foi parado com um apito do guarda de trânsito.
O guarda se aproximou da janela com um talão de multas na mão, mas o que queria mesmo eram três camisinhas.
Há dois anos, na missa de sétimo dia da avó, ele conta que um rapaz o chamou, deu-lhe os pêsames e pediu camisinhas.
Santana é o presidente do Gapa de Sergipe e esteve em Brasília apresentando suas "novidades" na semana passada.
Seu trabalho, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, é um dos 232 projetos de prevenção à Aids financiados pelo Ministério da Saúde em todo o país.
O "doutor camisinha" já ganhou fama em todo o Estado por adaptar um ônibus vermelho que percorre os bairros e cidades do interior mostrando vídeos sobre prevenção do HIV. Por onde anda, Santana leva uma camisinha inflável de 5 metros de altura que instala nas praças ou mesmo sobre o ônibus.
Em Aracaju, num final de semana, montou a camisinha diante de um motel frequentado por jovens das "melhores famílias". O consumo de camisinhas dobrou naquela noite, afirma.
'Camisildo'
O "doutor" prepara agora sua última novidade, o "camisildo". Trata-se de uma camisinha gigante montada sobre o chassi de uma kombi que deve debutar como carro alegórico no "Pré-caju", Carnaval que acontece na primeira quinzena de fevereiro. O "camisildo" deve passar o ano percorrendo a orla de Aracaju, sempre distribuindo camisinhas.
Na sua cruzada pelo preservativo, o "doutor camisinha" conseguiu entrar até nas igrejas, o que é inédito numa religião que condena o uso do preservativo.
Nas missas mais movimentadas do domingo, os fiéis recebem um folheto com a liturgia e outro sobre a Aids.
Além do sermão do padre, ouvem a palavra do "doutor". "Falo por uns minutos e não entro em choque com a Igreja. Digo que a Igreja prega a fidelidade, mas aqueles que não seguem esses princípios devem usar camisinha", afirma.

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