São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Governo podre

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Referindo-se ao tipo de Estado que a oposição reclama, o presidente da República, semana passada, classificou-o de "podre". Podre porque é paternalista, deficitário e inoperante. Seria o Estado da era Vargas, pai dos pobres e filho da demagogia.
A lengalenga é velha e até certo ponto óbvia. Não é o Estado que é podre e sim o governo, como o de FHC, que promete uma coisa e faz outra (demagogia), que socorre os bancos e os especuladores internacionais em detrimento das principais tarefas do Estado, que é garantir exatamente aquilo que ele próprio exprimiu com os cinco dedos de sua mão durante a campanha eleitoral.
Fosse o Estado minimamente administrado por políticos capazes e comprometidos com a sociedade -que afinal é o povo-, não teríamos o inchaço com funcionários incapazes, com prioridades equivocadas, com orçamentos delirantes e estourados.
Vejamos um caso concreto: a saúde vive um descalabro, a rede hospitalar faliu, um ministro que não precisa da demagogia para ser isso ou aquilo consegue a duras penas um imposto a mais para atenuar o drama. Em princípio, ele aumentou a garra do Estado, tornando-o maior e mais incisivo no dia-a-dia da vida de cada um de nós.
Entretanto, o dinheiro a ser arrecadado fatalmente irá engordar as burras nacionais para pagar serviços da dívida que maus governantes fizeram no passado e que os atuais governantes não sabem estancar.
Quem está podre, o Estado ou o governo?
Bem ou mal, o Estado é uma estrutura abstrata e utópica, operacionado por homens concretos e, na maioria das vezes, cínicos.
A lengalenga neoliberal que prega a sua diminuição não tem sequer a desculpa de atenuar seu malefício por meio do corte em suas atribuições.
O discurso de FHC é apenas o subterfúgio de uma incompetência e o servilismo de um grupo que se agarra ao poder pagando lá fora o preço de nossa soberania e de nossa vergonha.

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