São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997 |
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Efeito estufa pode esfriar a Europa
RICARDO BONALUME NETO
Ironicamente, um dos efeitos poderá ser o oposto -o esfriamento da temperatura da Europa em vários graus, criando uma pequena era glacial local. O anúncio desse risco foi feito por um pesquisador americano, às vésperas da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas globais em Kyoto, Japão. As interações do oceano com a atmosfera são particularmente importantes, mesmo para quem vive a centenas de quilômetros de uma praia, pois essa enorme massa de água, ocupando três quartos da superfície do planeta, tem grande influência no clima terrestre. Segundo o pesquisador americano Wallace S. Broecker, o aquecimento afetará a circulação de água nos oceanos, com isso modificando o clima em todo o mundo. Para Broecker, pesquisador do Observatório da Terra Lamont-Doherty, da Universidade Columbia, em Palisades, Nova York, essa circulação, que depende da temperatura e da salinidade da água, é o "calcanhar de Aquiles" do clima da Terra. A água e o ar estão constantemente trocando calor. Há uma espécie de efeito "esteira rolante", que faz a água circular, indo e vindo, em função da sua temperatura e salinidade (veja quadro ao lado). A água do oceano Atlântico Norte, por ser mais salgada e densa, desce ao fundo do oceano e movimenta a corrente. Broecker, em um artigo publicado na edição de hoje da revista norte-americana "Science", lembra que o estudo da camada de gelo da Groenlândia permitiu conhecer os ciclos climáticos dos últimos 110 mil anos. O gelo preservou informações sobre o passado -como bolhas com gases- que mostram que as mudanças climáticas podem ser abruptas, da ordem de poucas dezenas ou menos de anos. Cada mudança radical teria quebrado o delicado e complexo equilíbrio da circulação da água dos mares. Ele acha que o aquecimento da Terra pelo efeito estufa pode destruir esse equilíbrio. O aquecimento traria mais água para o mar, o que em si cria risco de inundação em ilhas e cidades costeiras. A água doce adicional, vinda de geleiras derretidas do Ártico e da Antártida, além do maior regime de chuvas, diluiria as águas do Atlântico Norte. Com isso poderia não haver a circulação de água para o sul. "As consequências podem ser devastadoras", diz Broecker, afetando a produção agrícola em uma época em que a população do planeta poderá ser de 11 bilhões a 16 bilhões de pessoas. Texto Anterior: Igreja cria regras para a Máfia Próximo Texto: Os oceanos e o efeito estufa Índice |
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