São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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TRABALHAR MENOS

O novo recorde da taxa de desemprego na Grande São Paulo, de 16,5% em outubro, segundo a Fundação Seade e o Dieese, confirma a deterioração da situação social e que a economia já estava em rota descendente antes mesmo da alta de juros e do pacote de contenção de gastos públicos, certamente recessivos. Nessas condições, a redução da jornada de trabalho, como começa hoje a ser discutida no setor de autopeças, parece ser uma das poucas maneiras de mitigar o desemprego.
Ainda que, com otimismo, se possa esperar uma melhora em novembro e dezembro, devido às festas, é provável que no início de 98 a escassez de postos de trabalho seja ainda mais aguda. As demissões sazonais, que ocorrem por conta da queda de consumo no início de ano, podem ser engrossadas pela expectativa de retração na economia. Esse cenário duro, mas realista, exige que se discutam a sério medidas de combate ao desemprego, mesmo emergenciais.
Na política econômica, o espaço de manobra encontra-se extremamente reduzido. A turbulência internacional e a dependência do Plano Real em relação ao financiamento externo impedem reduções significativas nos juros. Tampouco há espaço para que o Estado patrocine grandes projetos de criação de empregos. A perspectiva, ao contrário, é de corte de vagas, para reduzir o déficit público.
Já foram tomadas medidas para desonerar a micro e a pequena empresa, que são mais intensivas em mão-de-obra, e para estimular as exportações. Mas isso não parece suficiente para trazer o desemprego a níveis menos dramáticos. São necessárias medidas de maior alcance.
O avanço tecnológico e as pressões sociais têm levado à redução da jornada de trabalho ao longo de praticamente toda a história das sociedades industriais. É claro que isso não ocorre sem conflitos de interesse para definir quem paga a conta. O tema é polêmico. Mas, sem outras soluções à vista, a sociedade terá necessariamente de enfrentar a questão.

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